Quinta-feira. Dia de acordar cedo e partir para o Instituto. A primeira aula era de Método e começou com o relaxamento. Em vez do exercício com a bebida do café da manhã, praticamos nossa memória sensorial aplicando maquiagem imaginária de frente para um espelho imaginário com os olhos fechados. Devo dizer que no caso do Alberto, único homem da turma, foi fazer a barba. Todos os movimentos tinham que ser muito lentos para conseguirmos sentir o máximo possível. O mais difícil para mim foi me enxergar de olhos abertos no espelho. Porque, quando eu tentava, era uma mémoria e não a minha imagem do momento. E a ideia não era sair do momento. Foi um bom exercício. O próximo passo era fazer as leituras dramatizadas das cenas que ela tinha escolhido para cada um na aula passada. Eu adorei a cena que ela escolheu pra mim, então estava bem ansiosa para fazê-la. Acabou que todas as cenas que ela tinha pedido eram grandes demais e foram reduzidas. O Alberto não ficou muito satisfeito com a leitura dele. Saiu bem chateado porque achou que gaguejou demais. O texto dele era muito difícil e cheio de bifões. Natural que tenha tido dificuldade com o inglês na primeira leitura na frente de todos. A minha cena foi uma das últimas. Ela primeiro pediu pra gente começar da metade da cena, que eu não dominava tão bem. Mas aí chegamos à conclusão de que o começo era melhor e fizemos a leitura a partir do começo. De nove páginas e meia, agora só tenho que decorar três páginas e meia. Bem tranquilo. Embora eu quisesse fazer a cena toda. Quem sabe rola uma tradução do texto depois para montar a peça no Brasil..? É uma ideia. Enfim, eu fiquei satisfeita com a leitura. Me diverti fazendo! É tão bom fazer o que se ama. Mesmo que só numa leitura. O inglês só deu umas escorregadas, mas não me derrubou. Me senti confortável fazendo em inglês. Talvez porque eu tenha estudado bem a peça e a personagem. Quando desci do palco, meu amor me mostrou as lágrimas em seu rosto de emoção de ver em cena. Nada melhor pra auto estima do que um namorado apaixonado. Agora é decorar e ensaiar para a última aula. Depois da aula de Método, fomos em direção ao nosso restaurante de sempre porque era perto de uma loja de brinquedos onde eu queria comprar um objeto para o meu teste da aula seguinte. Conseguimos comprar, almoçamos e depois nos separamos porque o Alberto queria ir no albergue buscar o terno pro teste e eu não queria correr depois do almoço. Fui caminhando devagar, sozinha mesmo, até o curso e cheguei a tempo. Ele se atrasou um pouco, mas menos do que o professor e apareceu lá já vestido, causando um alvoroço da mulherada. Devo dizer que ele fica mesmo um galã de terno! O motivo dele se vestir assim era que na cena era dito que ele se vestia como uma advogado e, como ele é muito dedicado, mesmo sem concorrência, quis estar de acordo. A cena era curta e aparentemente banal, sem muitas informações ou emoções. Esse era o desafio. Conseguir criar vida a partir de quase nada, que é o que muitas vezes você recebe num teste por aqui a não ser que você seja um dos grandes. A cena era um cara e uma mulher no elevador. Depois de um blackout, as luzes voltam mas o elevador continua preso entre dois andares. Ela reclama e diz que está atrasada pra um compromisso do outro lado da cidade. Ele oferece o celular, mas ela diz que não tem serviço nesses elevadores e agradece a oferta. Ele diz que deve voltar a funcionar a qualquer momento e que ainda bem que ele não é claustrofóbico. Ela diz que também não, mas que tem medo do elevador cair. Ele diz que os elevadores são construídos com muitas medidas de segurança e ela pergunta quanto tempo ele acha que vão ficar presos. Ele diz que não tem ideia e se apresenta. Ela também se apresenta e pede confirmação se ele trabalha pra uma tal empresa. Ele diz que sim. Ela diz que a empresa ocupa todo o andar 28 e que ele se veste como um advogado, mas ela acha que ele é um contador. Ele pergunta se ela prevê o futuro e ela diz que não, que ela trabalha pra viver. A cena é só isso. À primeira vista, me pareceu uma ceninha de início de romance. Mas tínhamos que ser criativos. Então, inspirada na minha busca por ser a nova Angelina Jolie, resolvi transformá-la numa cena de ação, espionagem, sabotagem e assassinato. A minha personagem tinha armado para cortar a luz e ficar presa com seu alvo no elevador. Então, ela finge que o celular dela não está funcionando e diz que está atrasada, para ele oferecer o celular. Fingindo que está verificando o sinal, ela tira o chip do celular dele e guarda na bolsa. Depois, ela brinca um pouco com os sentimentos dele sugerindo que o elevador pode cair e seduzindo de leve. Quando ele se apresent,a ela aproveita para confirmar se ele é o cara certo perguntando sobre a empresa onde ele trabalha. O comentário sobre o trabalho dele já tem um pouco de sarcasmo, já que ele não é nem advogado nem contador, e sim um espião. Quando ele pergunta se ela prevê o futuro, ela abre um sorriso fofo e carinhoso ao dizer que não para em seguida apontar uma arma para cabeça dele e dizer que trabalha para viver. Na hora, saiu tudo como o previsto. Para minha sorte, o Alberto que leu o homem pra mim e eu tinha ensaiado com ele. Claro que no ensaio sempre é melhor, mas fiquei satisfeita. O professor ficou muito surpreso e deu uma gargalhada no final dizendo que eu tinha feito uma escolha muito inteligente. Parecia que ele tinha gostado bastante. Como a minha interpretação era ousada e, provavelmente, se fosse um teste real o diretor ia querer ver depois disso se eu poderia fazer como a personagem do filme precisaria fazer, ele me pediu pra fazer outra vez. Da segunda vez, eu tinha que fazer como se o tempo todo eu só estivesse mesmo morrendo de medo do elevador cair. Fiz e ele disse de novo que eu era uma atriz inteligente e me deu parabéns. Provavelmente, quando assistirmos na semana que vem, eu vou achar horrível. Mas pelo menos hoje eu saí com a sensação de que fiz o melhor que podia fazer naquele momento. E isso já é uma boa coisa para mim que sou geralmente cruel comigo mesma. Ele não disse quem conseguiria o personagem como disse que ia fazer, mas disse que semana que vem todos assistiremos e chegaremos juntos a uma conclusão que ele vai nos induzir a chegar. Saímos da aula e voltamos pro albergue. No caminho, liguei o celular que estava desligado há semanas e recebi uma mensagem da minha querida amiga Débora, que acabou te trazer a vida ao seu filho Gabriel ontem à noite, pra quem eu desejo toda a felicidade do mundo. Meus parabéns também para a tia Ângela com quem eu consegui falar graças à tecnologia bem no único horário em que a diferença de fuso-horário permitia. Tive uma grande surpresa ao receber uma mensagem da minha mãe dizendo que tinham achado as minhas coisas na rua e ligado para a American Express, que ligou pra ela e me deu o telefone da boa alma. Não vou pegar nada de volta porque ela mora em outra cidade e eu já tinha cancelado os cartões. Mas foi bom poder agradecer a preocupação e o trabalho que ela teve para me ajudar. Saímos para comer e comprar água e algumas coisas para fazer curativo pros joelhos do Alberto e voltamos pro albergue. Hoje completamos 30 dias de viagem. Passou tão rápido e ao mesmo tempo parece que foram meses de vivências! Só escrevendo todos os dias para conseguir não deixá-las se perderem na memória. Ainda assim, sempre que acabo de escrever vejo que esqueci de alguma coisa, ou algumas. Ontem, por exemplo, esqueci de comentar que o Alberto cismou com um blazer de veludo marrom num brechó aqui perto. Eu não gostei muito não, mas vestiu bem. Ficou estiloso, embora eu ainda não tenha certeza se gosto do estilo. Enfim, o que fez ele sair da dúvida e comprar o casaco foi a etiqueta: Academy Awards Clothes! A gente nem sabia que isso existia e continuamos sem certeza do que quer dizer. Mas se podia ser mais um sinal do caminho para o Oscar, melhor não deixar passar. Agora vou dormir porque amanhã não tenho que acordar cedo, mas também não faz mal não acordar tarde e aproveitar melhor o dia.
Obs 1: Depois desses 30 dias pode ser um pouco tarde para dizer, mas eu nunca releio o que escrevo porque fico com preguiça depois de escrever e geralmente já está na hora de dormir. O que quero dizer com isso é: perdoem os possíveis erros na escrita que cometo no caminho, por favor.
Obs 2: Eu sei que é um pouco ruim de ler tudo assim num bloco gigante de palavras, mas eu gosto de escrever da maneira que penso e os pensamentos não tem parágrafos. Eles vêm assim mesmo confusos e embolados. O que quero dizer com isso é: perdoem a desorganização no design dos textos.
Obs 3: Chega de observações.
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