terça-feira, 1 de novembro de 2011

30/10

Dia de partir. Dia de voar, seguir outros rumos. Dia de se despedir dessa aventura, desse aprendizado. Dia de viajar para deixar essa viagem acabar. O nosso transporte para o aeroporto chegou com 15 minutos de antecedência, me deixaram comer só uma fatia de pão. Nossas bagagens eram tantas que demos sorte de sermos os últimos a serem buscados e de ter sobrado um lugar vazio onde foram nossas bagagens de mão. Los Angeles é uma cidade imensa e, por isso, não conseguimos conhecer nem nossa rua inteira. Está certo que não era uma rua e sim uma avenida, mas só passamos por ela inteira na ida e na volta pro aeroporto. Nosso voo saía 13:30 e chegamos com uma boa antecedência. Os pesos da mala estavam ok e elas passaram pelo controle de segurança. Ninguém falou nada sobre o tamanho da minha mala de mão, mas eu sabia que ela não ia caber no compartimento e nem nos nossos pés. Até porque toda vez que embarcamos encontramos os nossos bagageiros já ocupados. Estava bem tensa com isso. Mas, de repente, uma voz anuncia que o nosso voo está completamente lotado e por isso terá problemas para comportar as bagagens de todos e que quem quisesse se voluntariar poderia despachar sua bagagem de mão direto para o destino final sem nenhum custo. Amém! Mais uma vez o Universo foi perfeito e esteve ao meu favor. Despachei minha linda mala de passarinhos e pude seguir em paz só com uma
mochila e uma sacola com meu travesseiro. O primeiro voo foi tranquilo. Eram quatro horas e meia de viagem. Mas, por causa da diferença de fuso-horário, vimos o anoitecer antes das 17h. Aproveitei para ler um pouco e deixei pra comprar o direito de usar a internet wi-fi no voo seguinte que era mais longo. Eu tinha combinado com a minha mãe que mandaria uma mensagem quando pegasse o segundo avião, mas o Alberto não sabe onde colocou o celular e provavelmente está despachado. Não teve muita espera entre um voo e outro, mas de repente já estávamos parcialmente de volta no Brasil. Acontece que quase todos que estavam lá esperando o voo pro Rio eram brasileiros e não mais se ouvia falar em inglês e sim em português. Aproveitei o intervalo para esticar um pouco as pernas. Esse foi o embarque mais bagunçado de todos. Acontece que nossos compatriotas não queriam compreender os avisos, em português, de que deviam aguardar sentados a hora do embarque e a chamada por zonas, e ficavam amontoados na frente da área de
embarque. Conseguimos embarcar e mais uma vez não tinha espaço no bagageiro. Tudo no pé mesmo. Paciência. A má notícia: esse voo não tinha acesso à internet e eu não teria como avisar minha mãe que estava tudo bem e eu estava a caminho na hora certa. Fiquei tão tensa que dei um jeito horroroso no ombro esquerdo que está doendo até agora e não me deixa fazer vários movimentos. Achei que a dor podia passar depois de decolar e estabilizar, mas não. Nesse momento, estou pela primeira vez escrendo a postagem em pleno voo. Embora só possa postar mesmo quando estiver em terra firme e com acesso à internet. Mas não podia esperar para escrever essa última postagem e eu nunca consigo mesmo dormir direito em avião. A essa hora, eu ainda estou biologicamente no dia 30, mas meu relógio já diz que é dia 31. Dia de chegar em casa e me inventar de novo. Aquela que chega não é a mesma que saiu. Isso eu já tinha certeza que aconteceria, mas tinha medo porque não sabia quem eu seria quando chegasse lá. Pois eu era eu mesma, só que eu mesma muda toda hora em qualquer lugar. As mudanças vão occorendo a cada experiencia. Às vezes, tão devagar que a gente que está dentro nem nota. Mas quanto mais intensas as experiências, maiores as mudanças. Por isso, posso afirmar que mudei bastante. Porque vivi bastante. Agora sei exatamente quanto tempo tem em 40 dias, porque vivi cada hora. A gente muitas vezes esquece de viver e fica só sobrevivendo, convivendo com a própria rotina. Aí o tempo passa e a gente nem vê. Essa é a grande maravilha de viajar, a sua rotina não cabe na bagagem. Essa experiência de escrever esse blog foi muito boa e espero conseguir levar a sensação adiante para que meus outros dias não sejam dias comuns. Por que não viver cada dia como se tivéssemos que escrever uma postagem inteira sobre ele? Porque ter que escrever sobre o seu dia te dá uma consciência plena do que você está fazendo com o seu tempo. Se você está ou não vivendo o seu presente. Te dá um incentivo para buscar coisas novas e interessantes. Te obriga a sair da preguiça, do deixa pra outro dia. Outra coisa que ficou forte em mim depois disso tudo foi que tudo depende do ponto de vista. Que as dificuldades menores só parecem pequenas perto das maiores. Então, se você tinha um objetivo que parecia muito difícil de alcançar, almeje um ainda mais difícil. Mas acredite nele com todo coração, que o primeiro, ao deixar de ser um objetivo e sim só mais um passo, vai parecer bem mais fácil. E quando você não acha tão inalcançável você vai lá pra ver e descobre que na verdade é só ficar na ponta dos pés. Porque talvez essa vida esteja longe de ser o objetivo final, mas sim um passo do caminho. Acredito que será muito bom poder reler tudo que escrevi sempre que quiser e mergulhar de novo nessa viagem. Mas talvez não tivesse tido força de vontade para escrever todos os dias se não soubesse que tinham pessoas aí do outro lado lendo, me acompanhando, torcendo, esperando pra saber que dias eram esses que eu estava vivendo lá em outro país, outro continente. Agradeço a todos que tiveram o interesse e a paciência de ler esses meus textos intermináveis. Acredito que alguns me conheceram mais nesses dias em que estou longe do que nos outros em que estava perto. A vida tem dessas ironias. E é uma delícia viver com todas as dores e prazeres que isso implica. Para que só andar se podemos fechar os olhos de olhos abertos e voar?

29/10

Último sábado da viagem. Último dia em Los Angeles. Acordamos bem tarde já que tínhamos ido dormir às 4h. Alberto começou a arrumar as malas dele porque o processo dele é bem demorado e envolve primeiro transformar tudo num caos total, enquanto eu escrevia o que tinha acontecido no dia anterior e pesquisava algumas coisas. Umas 14:30 fui chamá-lo no quarto, que a essa altura mal dava pra entrar de tanta bagunça, para irmos almoçar antes de ir ao cinema. O almoço foi no nosso querido Farmers Market. Um crepe que tínhamos comido outro dia e que valia a pena repetir. Apesar do filme ter estreado no dia anterior e ser com o Johnny Depp, foi muito fácil de comprar os ingressos. Eu acho que já estava um pouco cansada de fazer esforço mental porque perdi mais do inglês do que deveria. Deu pra entender o filme, mas com certeza poderia ter sido melhor se tivesse entendido tudo. Não é a melhor atuação dele, mas ainda é ele. Lindo de tão talentoso. Ficamos sabendo que ele vai filmar um projeto pra Disney estilo western onde vai ganhar simplesmente 25 milhões. Não é pra qualquer um. Mas quem sabe um dia eu chegue lá. Depois do cinema, compramos uma lata de leite condensado pra fazer nosso último brigadeiro de albergue e um pote de Hagen
Dazs de despedida, inacreditável de gostoso. O sabor era chocolate com marshmalow e amêndoas. Pena que no Brasil custa uma fortuna. Nada que eu não possa pagar quando estiver ganhando 25 milhões por filme. Voltamos pro albergue para encarar o desafio das malas. Eu até tentei esperar meu amor acabar de arrumar as dele pra ter espaço para arrumar as minhas, mas ainda bem que desisti porque ele acabou ainda depois de mim. O problema é que tínhamos que fazer o milagre da multiplicação do espaço. Parece que perdemos a linha nas compras. Mas os preços das coisas eram irresistíveis. Enfim, devíamos ter trazido menos coisas para termos mais espaço de reserva. A minha sorte foi que tinha comprado outra mala de mão bem maior do que a que eu tinha usado na ida. Ainda assim quase que não coube. Depois de tudo arrumado, nosso quarto tinha montanhas de caixas e sacolas plásticas. Produzimos uma imensa quantidade de lixo. Quando saímos do Brasil, tínhamos que respeitar o limite de peso de bagagem de 23kg porque faríamos uns voos domésticos. Na volta, podíamos carregar 32kg em cada mala e ainda assim estávamos com medo de ultrapassar. O Alberto conseguiu uma balança emprestrada no albergue. Isso já era pra lá de meia noite e graças a Deus nossas malas estavam dentro do limite. As minhas estavam tranquilas, mas as dele no limite do limite. Minha real preocupação era que a mala de mão nova era maior do que o que dizia no site que era permitido. E se eu tivesse que despachá-la também, teria que pagar uma taxa de $85. Tiramos algumas coisas dessa mala e tranferimos para as outras para ver se as dimensões diminuiam, mas elas continuavam maiores do que deviam. Só me restou rezar pra deixarem passar e afogar a ansiedade no brigadeiro, no sorvete e na pipoca. Só conseguimos ir dormir às 2h, mas com tudo pronto para o dia seguinte e com o despertador ligado para às 9h.

sábado, 29 de outubro de 2011

28/10

Última sexta-feira da viagem. Penúltimo dia em LA. Curso completo, hora de botar o turismo em dia. Ainda tinha duas coisas que queria conhecer antes de ir embora. Resolvi fazer as duas nessa sexta para deixar o sábado para o Johnny Depp e a arrumação das malas, que não vai ser fácil. A primeira era conhecer a praia. Pensamos em ir até Malibu, mas seriam 2 horas de viagem de ônibus, então fomos até Santa Mônica Beach. Para chegar lá precisamos pegar dois ônibus, mas estávamos com sorte e não tivemos que esperar quase nada por eles. O caminho já foi um passeio porque passamos por vários lugares que não tínhamos passado antes, como os estúdios da Fox. Graças ao nosso amigo google maps chegamos lá direitinho. A praia é bem bonita e o píer é super animado com videntes (tem muitas por aqui), dançarinas do ventre, palhaços, entre outros tentando ganhar a vida nesse país. No píer, tem um parque de diversões à moda antiga que era a cara daqueles primeiros encontros que vemos em filmes quando o cara ganha um bicho de pelúcia para a garota e eles tomam sorvete e comem algodão doce. Provavelmente muitas dessas cenas foram mesmo filmadas lá. De acordo com o guia de Los Angeles que meu amor comprou, lá fica a única roda gigante movida à energia solar do mundo! E claro que nós não perdemos a oportunidade de dar umas voltinhas nela e apreciar a vista da praia do alto. Pena que não conseguimos ver nenhum golfinho ou leão marinho. Da praia, fomos conhecer uma rua deliciosa cheia de lojas, restaurantes e cinemas, fechada para carros. Uma prima mais rica da Rua das Pedras de Búzios. De dia a rua é charmosa, mas quando escurece luzes acendem nas árvores e fica ainda mais bonito de se ver. Só falta a neve para nos sentirmos no Natal dos filmes. A praia de Santa Mônica é famosa pelo seu pôr do sol. Voltamos lá na hora certa para conferir e tirar fotos. Andamos mais um pouco pelas lojas e pegamos nossos ônibus de volta para a segunda parte do nosso dia. Em todos esses dias de viagem, o mais tarde que ficamos na rua foi no dia que assistimos Wicked, que chegamos de volta lá pra meia noite. Ou seja, não conhecemos a madrugada de nenhum dos lugares e agora era a hora. Toda sexta, o nosso albergue organiza uma ida a uma boite que começa com uma festa no próprio albergue. Mas não é qualquer ida. É uma saída em grande estilo numa super Limousine branca. E não era uma noite qualquer, mas uma festa de Halloween. Não podíamos deixar de ir. Como só descobrimos que seria festa de Halloween em cima da hora, não tínhamos comprado nenhuma fantasia. Tivemos que improvisar uma roupa mais dark e ir assim mesmo. A festa no albergue nós não aproveitamos muito porque chegamos tarde, mas a Limousine já era uma boite em si. Luzes verdes, música alta, pessoas pra lá de bêbadas se divertindo. Foi bem engraçado de ver e participar. Conhecemos dois brasileiros que estão em outra filial do nosso albergue. Entramos no clima e nos sentimos jovens de novo. Tudo bem, nós somos jovens, mas não tanto e não costumamos fazer esses programas que você precisa ser jovem para curtir. O Halloween aqui é o Carnaval no Brasil. As fantasias não tem necessariamente nada a ver com Halloween. No geral, parece que o objetivo principal das mulheres é usar o mínimo de roupa possível e o espírito é o de carnaval onde ninguém é de ninguém. Ainda bem que eu estava com meu namorado do lado de quem eu não podia desgrudar porque elas não estavam de brincadeira não. O espaço da casa noturna era muito bonito com três ambientes e uma pista de dança onde tocavam as exatas mesmas músicas que a gente ouviria se fosse em uma no Brasil. No palco, homens e mulheres se revezavam dançando para animar a galera. Todos dançavam muuuuito. Do tipo, impossível fazer esses movimentos nessa velocidade com esse salto alto. Os caras eram mais pro estilo hip hop de dança com aqueles passos de tirar o fôlego. Nos bares, mulheres serviam as bebidas vestidas com nada mais que lingerie. Não sei como elas aguentam o frio porque eu estava de sobretudo e numa boa. Nos divertimos pra caramba! Dançamos muito e aproveitamos a companhia um do outro como se não estívessemos sem nos separar há tantos dias. É bom mudar de ares de vez em quando. Curiosamente, a noite de Hollywood acaba cedo e às 2h a boite já estava fechando. Era também a hora combinada para a nossa Limousine nos buscar, mas ela atrasou uma meia hora. Conhecemos um dos caras que trabalha no nosso albergue que nos ensinou que eu sou coelho e o Alberto é dragão e que isso é bom. E que de acordo com o ciclo de 12 anos, esse é o meu ano de fazer acontecer. Chegamos de volta umas 3h e por isso foi impossível escrever aqui antes de dormir. Mas agora estou de novo atualizada e posso partir pro meu último dia.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

27/10

Última quinta-feira da viagem. Último dia de aula. Dia de completar 49 meses de namoro. Dia de apresentar a cena tão estudada. Acordei, tomei café, correndo pra variar, e fui para o Instituto levando meu figurino excêntrico e meu namorado. Na aula, fizemos primeiro o relaxamento e depois começaram as cenas que ela escolhia a ordem em que seriam apresentadas. A primeira dupla não tinha o texto decorado direito e não tinha ensaiado. Então, a professora teve que definir onde ficariam os móveis e o que elas deveriam fazer além de ter que parar toda hora para dirigir a cena. Achei que era porque elas não estavam preparadas. Mas parece que a proposta dela não era que apresentássemos a cena simplesmente e sim trabalhar a cena com a gente. Particularmente, eu queria ter feito a cena pelo menos uma vez sem nenhuma interrupção. Ela falava demais e queria que tudo fosse do jeito que ela achava que tinha que ser porque já tinha trabalhado a cena muitas vezes. Foi um pouco chato de assistir, mas deu para aprender mais do que se só assistíssemos as cenas prontas. Eu me diverti bastante fazendo a minha e fiquei feliz mesmo com as interrupções, porque adoro a cena. As pessoas pareceram gostar também. O Alberto foi muito bem, embora a companheira de cena dele não fosse de muita ajuda. O desempenho dele durante todo o curso me deixou bem orgulhosa. Depois da primeira aula, saímos pela Santa Monica Boulevard procurando um lugar diferente para almoçar e acabamos parando num restaurante chamado Marco`s onde comemos um Fish & Chips que dava pro gasto. Meu amor continua investindo nas saladas comendo uma inteirinha antes de dividir o prato comigo. Na aula seguinte, ouvimos muitas histórias interessantes de bastidores e de testes e finalmente descobri de onde eu conhecia o nosso professor de audição. Ele fez o psiquiatra no Edward Mãos-de-Tesoura. Depois veio a parte mais difícil. Assistir às nossas próprias cenas da semana passada. Não dá pra dizer que amei me ver, mas posso dizer que já superei a fase de ter que correr para terapia depois. Ganhei muitos aplausos depois da surpresa no fim da minha cena. Mais uma vez o Alberto mandou muito bem! Conseguiu se destacar não só por ser o único homem. Depois de assistirmos todas as cenas, descobrimos que faltavam três. Tivemos um pequeno intervalo na aula enquanto tentavam recuperar as cenas perdidas, mas parecia que não iam conseguir. Nesse caso, o professor resolveu não decidir quem ganharia o papel para não ser injusto com as três que tiveram suas cenas perdidas. Mas perto do fim da aula, conseguiram recuperar e assistimos às que faltavam. Cada um teve que pegar um papel e escrever o seu voto. Claro que não podia votar em si mesmo. Votos recolhidos e contados. Surpreendentemente algumas pessoas não tinham entendido que o Alberto não estava concorrendo ao mesmo papel que a gente e votaram nele. O resultado foi um empate.... entre nós dois! Aê!!!!!! Ganhamos um papel fictício num filme fictício e saímos felizes e satisfeitos com isso! Foi o mais perto de um trabalho que Hollywood pode nos oferecer dessa vez. Tiramos algumas fotos, ficamos um tempo junto com a galera num lugar ali perto para despedida e fomos buscar a mala que agora está perfeitinha de novo. Voltamos pro albergue não sem antes passar na nossa querida loja Ross e coletar mais algumas coisas para levarmos pro Brasil. Não recebemos um dvd com o teste, mas recebemos o dvd das nossas lutas que vai ser divertido de assitir de novo embora seja bem rapidinho. Só mais dois dias em LA e chegará a hora de abrir as asas de novo e voar de volta pro ninho.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

26/10

Última quarta-feira da viagem. Como não tinha que acordar cedo, eu acordei tarde mesmo. Ainda tinha que decorar o resto do texto para o ensaio de hoje. Mas aconteceu uma coisa curiosa com esse texto. Nas duas vezes que fui parar pra decorar no meu método normal de decorar, descobri que já estava decorado. Não sei se por ter estudado tão profundamente o texto, entrado em contato com a personagem tão intimamente, mas as palavras me pareceram naturais e sem perceber já sabia todas elas. O ensaio era às 14h, mas foi tranferido para 15h. Só um tempo a mais pra entrar na internet com calma e ir almoçar. Cheguei lá na hora combinada e a Laura também. O ensaio fluiu muito bem! A cena é gostosa de fazer. Depois de passar tudo algumas vezes, ela me deu uma carona de volta pro albergue e cheguei até antes do Alberto que tinha levado uma das nossas malas pra consertar. Troquei de roupa e resolvemos ir conhecer a famosa Rodeo Drive em Beverly Hills, onde ficam todas as lojas mais famosas e caras como Armani, Gucci, Prada e todas as outras incompráveis para os pobres mortais ou os mortais não ricos. A primeira parte da rua era totalmente residencial e tinha cada casa mais linda que a outra e todas sem muro com carrões estacionados na porta. Chegamos na parte comercial umas 18h (o ônibus demorou muito pra passar) e quase todas as lojas estavam fechadas, o que foi estrategicamente positivo já que só queríamos mesmo conhecer o lugar e olhar as vitrines. A mais bonita de todas era a Ralph Lauren, mas tinha uma com partes de vidro no chão de onde você via como que um defile de manequins no andar de baixo muito interessante. A única que entramos foi a da Nike, que já estava quase fechando. Mas quando saímos, parece que estavam se preparando para algum evento importante com celebridades do lado de fora porque fomos literalmente expulsos da calçada sem maiores explicações. Pena que estava muito frio, eu não tinha gostado de como tinham falado com a gente e não sabíamos muito bem onde pegar o ônibus de volta, ou eu teria ficado esperando um pouco do outro lado da rua para descobrir o que ia acontecer ali. Achamos o ponto, mas vimos o ônibus passar antes de chegarmos lá. Ou seja, uma meia hora esperando o próximo. De volta para a nossa área, fomos comer no nosso querido Farmers Market e voltamos para o albergue. Amanhã é o último dia de aula. Infelizmente. Eles tem tanto para ensinar e nós tão pouco tempo para aprender. Quem sabe um dia a gente volte para o de três meses... Espero conseguir muitos trabalhos antes disso. Hollywood pode esperar. Um dia eu volto nem que seja só para receber meu Oscar. Agora vou tentar não dormir muito tarde para não acordar com tanto sono.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

25/10

Última terça-feira da viagem. Dia de acordar cedo e estudar. Hoje choveu pela primeira vez desde o dia que chegamos. Na verdade, nem deu pra abrir o guarda-chuva de tão leve que era a chuva. Mas estava bem frio. Aqui em Los Angeles nessa época do ano quase todos os dias de manhã faz frio e parece que vai chover. Lá pela hora do almoço já não tem nenhuma nuvem no céu e um sol de rachar e quando o sol de põe esfria bastante de novo. Você tem que sair sempre preparado para a mudança de temperatura. Voltando ao que interessa, chegamos na hora pra aula (não nos atrasamos nenhuma vez) e como as entrevistas tomariam tempo, não fizemos relaxamento nem os exercícios sensoriais. Dessa vez, eu tinha feito todo o dever de casa e sabia mais sobre a vida da Collete do que da minha própria. Não fui a primeira mas também não fui a última. Fui antes do Alberto, o que é um fato impressionante. O que aconteceu foi que fiquei pensando na personagem enquanto ouvia as outras entrevitas e em determinado momento eu senti uma necessidade imensa de subir no palco e começar a falar. As dores dela (Collete, minha personagem) estavam me sufocando e eu precisava botar pra fora. Foi uma ótima experiência! Eu até esqueci de me preocupar com o fato de ter que falar em inglês. Afinal, ela, que não era mais ela e sim eu, era americana. A entrevista acontecia como se fosse dentro de um sonho e por isso a personagem tinha que responder mesmo as perguntas que ela não responderia normalmente para qualquer pessoa. Era uma conversa através do inconsciente e nós deveríamos usar nas respostas tanto informações tiradas da peça, quanto informações imaginadas por nós e outras tiradas da nossas próprias vidas a fim de achar um fio conector entre a pessoa e o personagem. Eu usei bem pouco dos fatos da minha vida pessoal já que tinha imaginado um montão deles, mas pude usar sentimentos verdadeiros meus em situações totalmente diversas. Alberto teve que descrever na entrevista dele o que o personagem dele amava na mulher dele. E no fim da entrevista disse que tinha sido muito bom porque ele pode descrever exatamente o que ele amava em mim. Um fofo! Depois de mais essa última aula, almoçamos correndo pra voltar para a aula de luta. Hoje era o dia em que aprenderíamos uma coreografia de luta para depois filmar a sequência. Eu estava super ansiosa porque adoro essa aula e queria muito me assistir fazendo uma coisa que nunca tinha feito antes. Fizemos um bom aquecimento e alongamento e uma pequena revisão. Eu acabei dando sorte porque estávamos em número ímpar e eu sobrei para fazer o alongamento com o professor e a revisão com o assistente dele. Mas na hora da coreografia escolhi como adversária minha parceira da outra cena já que as nossas personagens se odeiam e acabam mesmo se batendo numa outra cena. Tudo saiu sem maiores acidentes. Ela só me acertou um soco sem querer na mão e eu acertei um soco sem querer (eu juro!) no Alberto quando ele estava tentando me mostrar como fazia. Mas eu não fiquei machucada e nem ele. Durante a sequência, eu tinha que fazer um rolamento, que nunca foi meu forte, e no ensaio eu acabava ficando nervosa e fazia de qualquer jeito. Mas até que na hora de gravar eu fiz tudo direitinho na medida do meu possível. Me diverti muito fazendo e colocando toda a agressividade pra fora. Aprendi muito nessas três aulas de luta e o principal foi acreditar que eu também posso ser capaz. A gente assistiu todas as sequências depois e eu definitivamente não estava entre as piores como era de se esperar. Saí dessas aulas sem ter batido com a cabeça nenhuma vez. Praticamente um milagre! A gente vai receber depois o dvd com a cena e eu poderei provar o que estou dizendo. A filmagem não mostra exatamente como ficaria a cena porque foi filmada em plano aberto e de longe e esses movimentos são feitos para enganar a câmera em outros ângulos de maneira a parecer que o soco que não encosta, encostou. Mas dá pra ter uma ideia. Depois da aula, ensaiei minha cena de quinta que estou adorando fazer. Resolvemos tentar ir um pouco adiante na cena e vamos perguntar pra professora se podemos fazer com mais esse pedaço porque na parte que fazíamos antes só eu atacava ela, e logo depois ela começa a me atacar, o que deixa o todo mais interessante. Amanhã vamos ensaiar de novo. Agora tenho que começar a decorar o resto da cena já que inventei de fazer.

24/10

Última segunda-feira da viagem. Alberto tinha ensaio marcado 12h, antes da nossa aula, com a parceira de cena dele para a aula de quinta e eu iria ensaiar depois da aula. Então, ele saiu mais cedo me deixando sozinha um pouco, o que foi bom já que passamos praticamente 24h juntos durante todos esses dias. Se ainda não estamos nos odiando é um bom sinal...rs. Marquei de encontrar com ele 13:30 perto do curso para almoçarmos antes da aula. Comemos rápido e aproveitamos para passar o texto da nossa cena. Eu não estava tão nervosa quanto na outra semana em que acabou não tendo, e isso não era um bom sinal. Contrariando o que sempre faço me deixando para apresentar por último, o Alberto nos fez ser os primeiros. Por um lado é bom porque a gente aproveita melhor o resto da aula sem a preocupação de se apresentar. Mas por outro lado, como cobaias podemos ser pegos de surpresa. E foi o que aconteceu. Ele só tinha pedido pra gente levar uma cena e identificar os objetivos dos personagens e eu achei que era só pra ter uma base para trabalhar durante a aula e não que deveria ser uma cena pronta e tal. Mas o que ele esperava era que a gente aplicasse técnicas do método que estamos aprendendo em outra aula. Então, no fim da cena ele começou a me fazer um monte de perguntas sobre a vida da personagem que não faziam parte do filme e que eu não tinha trabalhado. Estava trabalhando isso na outra cena e nem me preocupei de fazer isso com essa. Me senti super mal, mas pelo menos consegui fazer ele entender que o objetivo que eu tinha identificado na cena estava certo. Ele nem fez as perguntas pro Alberto. Nos indicou alguns ajustes e fizemos mais algumas vezes de acordo com o que ele ia indicando. Mas ele estava certo e todas essas informações faziam falta pra construção do personagem como um indivíduo específico e não generalizado. Ainda não assistimos a cena pra ver como realmente estava. Na verdade, nenhuma das outras pessoas tinha feito esse trabalho. As que sabiam mais informações era porque a informação estava dentro da história e não porque tinham criado. Mas a minha personagem só tinha duas cenas no filme, o que não me dava muitas pistas. Acabei me sentindo frustrada e chateada porque podia ter trabalhado mais, mas é difícil não se distrair tendo toda cidade para conhecer e não muito tempo. Fiquei pensando que se ele tivesse dado essa aula na semana passada a gente teria tido uma semana pra consertar e fazer de novo. Mas era a última aula, última chance. O que me deixou mais triste foi o fato de a aula dele ter sido muito boa, queria mais. Mas é um intensivo e ele me explicou que era assim mesmo, que o importante era a gente entender o que devia ser feito para poder aplicar depois no nosso trabalho. Acho que entendemos bem e fará diferença no nosso futuro, mesmo que tendo sido uma experiência tão rápida. A parte mais consoladora foi que, sendo o Alberto o único homem da turma, acabou tendo uma pequena conversa com o professor durante o intervalo no banheiro masculino. O professor disse pra ele que tinha uma sensação muito boa a respeito dele e de mim. Que ele sabia como era difícil fazer tudo isso e num segundo idioma e que via que a gente estava entendendo o que ele estava propondo e que a gente só precisava de mais tempo pra chegar onde ele queria na cena. Além disso, a nossa cena era gigante e ele admirou nossa coragem de estudar tudo aquilo. Disse também que sentia que a gente ainda iria voltar e que a gente devia voltar. Engraçado porque na semana passada depois dessa aula eu só queria voltar pro Brasil e depois dessa aula eu me senti como se ainda não estivesse preparada pra voltar. O ensaio depois da aula não aconteceu porque a minha parceira de cena não tinha começado a decorar o texto ainda. Então, ficamos um pouco mais por lá pra assitir um pedaço da aula do nosso professor no curso regular. Ficamos só um pouco poque estávamos cansados e eu ainda tinha que estudar. Mas foi muito interessante porque uma das alunas tinha levado um amigo para mostrar o trabalho dele e era um pintor que tinha perdido a visão e que continuou pintando. Ele era tipo da nossa idade e falou um monte de coisas que foram uma boa lição de vida. Voltamos pro albergue e comecei a escrever a biografia da minha personagem da cena de quinta para poder fazer a entrevista com a professora de terça. Acabou ficando tarde e como eu estava com dor de cabeça deixei para escrever no dia seguinte.

domingo, 23 de outubro de 2011

23/10

Domingo. Despertador ligado para às 8:30. Até que acordei mesmo. Mas não consegui ficar pronta para sair em meia hora como o previsto. Me dei um tempo para ir acordando, tomar banho e café da manhã com calma. Afinal, o dia era de diversão e não de obrigação. Conseguimos sair às 10h. Considerando que calculávamos chegar umas 11h e o parque fechava às 18, ainda estava valendo. Demos o azar de ver no nosso raro ônibus passar quando ainda estávamos do outro lado da rua e longe o suficiente pra não correr. Sentamos no ponto sabendo que podia demorar, mas até que não foi tanto. Para chegarmos lá pegamos um ônibus, depois um metrô (nossa primeira vez no metrô de LA) e depois outro ônibus, da Universal. Parece muito, mas eram trechos curtos e não nos perdemos, o que é bom. Na bilheteria, uma surpresa... Na compra de ingresso para um dia a gente ganhava um passe de entrada livre até o final de 2012!!!! Pena que provavelmente não vamos usar nenhum desses dias e não podemos dar pra ninguém porque vem com os nossos nomes e eles pedem identidade. Mas é legal saber que podemos voltar quando quisermos. Nossa primeira parada lá dentro, claro, foi o que mais interessava. O tour pelos estúdios. Foi bem interessante mas não exatamente o que eu gostaria de ver porque é mais para turistas e não para pessoas do ramo que querem ver como um estúdio desses funciona de verdade. Ainda assim foi divertido. O tempo acabou ficando curto para irmos em tudo, mas conseguimos ir em tudo que fazíamos questão. Destaque para os dois mais radicais e emocionantes: o do Jurassic Park (que eu não tinha ido quando criança porque tinha medo) e o da Múmia. Outros bem legais foram o Shrek em 4D e um simulador de montanha-russa dos Simpsons. Também teve uma exibição de como são feitos os efeitos especiais e um show com os animais artistas que foi uma gracinha (incluindo um cachorro que sabia seguir as marcas melhor do que muitos atores por aí). Depois que o parque fechou, demos uma volta pela CityWalk (um centro de lojas, restaurantes e cinema na frente da Universal) onde tinha o iFLY Hollywood. Nesse lugar, dentro de uma câmara fechada com vento, que eu não sei muito bem como funciona, as pessoas voam com a ajuda de um instrutor. Parece muuuuuuito legal visto de fora, mas nem eu nem o Alberto nos aventuramos dessa vez. Em vez disso, pegamos nosso shuttle de volta para o metrô e o metrô até o Kodak Theatre. Comemos por lá e pegamos o ônibus de volta para o albergue onde agora temos que nos preparar para amanhã quando espero poder apresentar a cena com ele e ensaiar a cena para quinta. A nossa última semana começou.

sábado, 22 de outubro de 2011

22/10

E, finalmente, chegou o dia tão esperado! Acordamos, tomamos café da manhã e nos arrumamos para o nosso programa chiquérrimo. Pela primeira vez em toda a viagem, saí de salto alto. O espetáculo começava às 14h e por isso achamos melhor almoçar lá por perto. Pegamos o ônibus que, graças a Deus, não demorou para passar. A primeira coisa que fizemos ao chegar lá foi checar os pés e mãos dos famosos na frente do Chinese Theatre que da outra vez tínhamos perdido. Descobri que minha gêmea de mão é a Bette Davis. Nada mal, heim? Fotos tiradas, tamanhos comparados e fomos para o Hollywood & Highland Center onde fica o Kodak Theatre, objetivo não só do dia de hoje, mas de algum dia futuro. Almoçamos rápido e chegamos no teatro com meia hora de antecedência. O teatro é muito bonito e os nossos lugares eram incrivelmente bons! Antes de começar, já tinha valido cada centavo (quer dizer, cent), só de sentar naquela cadeira onde tantas pessoas de sucesso já sentaram. Nós nunca tínhamos assitido ao Cirque du Soleil, a não ser em dvd, e eu esperava nada menos do que maravilhoso. Mas é indescritível, uma experiência que tem que se viver pelo menos uma vez na vida. Benditas essas pessoas que dedicam suas vidas de forma bem sacrificante para trazerem encantamento pra vida daqueles que assistem, um aperitivo do que deve ser um mundo melhor. Pena que tenho apenas dois olhos, pois para absorver tudo que aconteceu diante deles precisaria de pelo menos dez. Além de tudo, o tema era do meu máximo interesse: o mundo do cinema. Como é um show permanente, eles não vendem em dvd. Então, para aqueles que um dia vierem para esses lados, não deixem de ir. Teve até uma entrega de prêmio divertidíssima que envolvia também pessoas da plateia. Mas não foi dessa vez que fomos indicados. Foram duas horas onde nada era mais interessante do que o momento presente. Mergulhamos num mundo onde tudo é possível, onde os corpos parecem não ter limitações, onde a vida se arrisca com a maior graça e beleza. A orquestra no Kodak Theatre não fica num fosso e sim em camarotes laterais. A mistura de circo, dança, teatro, música e cinema foi perfeita! Simplesmente amei e lamento não ter como fazê-los compreender o que realmente foi. Uma celebração da arte, da beleza, da liberdade, da alegria, da vida. Depois de sairmos de lá, nada mais do que tenha acontecido parece digno de nota. Só passeamos pelas lojas ali perto, comemos e voltamos para o albergue. Mais uma vez demos sorte de o ônibus vir rápido. A ideia é ir para a Universal Studios amanhã, mas não vai ter excursão do albergue. Vamos ver se conseguimos disposição para acordar cedo e irmos independentes. Agora não nos restam muitos dias livres. O tempo voa!

Obs: Um feliz aniversário para minha querida avó Solange!

21/10 - Participação especial: Alberto Naar - Parte 2

Olá.
Bom dia, boa tarde e boa noite, não importa o fuso-horário em que você se encontre.

Eu me encontro no GMT -8, na cidade de Los Angeles, Califórnia. Isso significa que as coisas acontecem aqui OITO horas depois do que acontecem em Londres. Isso significaria que as coisas acontecem QUATRO horas mais tarde aqui do que no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, mas os seres humanos, no Brasil (em quase todo o Brasil), acham por bem adiantar seus relógios em uma hora nesta época do ano, o que faz com que os humanos da Califórnia sejam CINCO horas mais atrasados que os humanos do Rio de Janeiro.
Ou seja. Aqui o Lulu Santos volta mais tarde pra casa após passar o dia sobre as ondas.

Mas nada disso é importante.

Se estivéssemos em Londres, teríamos chegado ao Lacma OITO horas mais cedo do que chegamos, hoje, quando fomos lá. E o bendito provavelmente estaria fechado. (isso foi só um gostinho do que foi o ponto forte do dia, que virá em breve)

Depois de acordar cedo ontem, nos demos um descanso e só eu acordei cedo hoje. Acordei com o som da necessária obra no andar de cima, que começou, desnecessariamente, às oito da manhã. Marcela, por outro lado, continuou a dormir como um anjo até às 10:44 da manhã, quando o alarme tocou e eu pulei da cama para ir fazer o café para nós, antes que acabasse o horário do café, às 11 da manhã (DA CALIFÓRNIA). Levei o café na cama, como o perfeito romântico galante que sou, e Marcela encontrava-se no banheiro. Como o perfeito esfomeado que estava, comecei a comer minhas torradas, sentado na cama, e quando ela saiu do banheiro e me viu, meu mundo caiu: VOCÊ ESTÁ SENTADO DO MEU LADO DA CAMA. Ela disse isso da forma mais dócil que existe, e por isso que eu pensei: as migalhas da torrada!

Depois disso, comemos, bati a cama, e comecei a arrumar o quarto, pra poder pedir pra moça da limpeza limpar o quarto de novo depois.

Enquanto isso, Marcela lavou suas meias, entrou na internet, se arrumou pra sair, e quando ela finalmente estava pronta. Eu. Comecei. A. Me. Arrumar.

3 Minutos.

Foi esse o tempo que levei pra me arrumar.

Saímos em direção ao, já conhecido do público, Farmer's Market. Não foi lá que paramos, no entanto. Paramos antes em um brechó, que usa a grana que ganha pra ajudar a combater a AIDS. Na porta desse brechó tinha uma fantasia da branca de neve, com a saia menor do que a do figurino das mulheres fruta, vestida em um manequim negro! GE-NI-AL!

Enfim. Entramos no brechó, e pra ajudar a combater a AIDS, só pra ajudar (VALEU ENTÃO, GAROTO!) comprei 5 camisas e um sobretudo.

CALMA MÃE!

Comprei tudo por $35,00. Cada camisa (tinha camisas da gap, puma e urban oufitters no meio) custou $4,00 e o sobretudo (DA GAP!) custou $15,00. Ou seja, UMA PECHINCHA!

Acredito que a Marcela não tenha contado, mas estou com esse objetivo de não lavar roupa na viagem. Eu estou com medo de fazer besteira e deixar todas as minhas roupas da cor rosa, ou algo semelhante. E o pior e que eu NEM IA NOTAR, por causa do meu daltonismo. Se bem que, nos EUA, eu não sou daltônico, sou color-blind.
De forma que agora, eu tenho roupas suficientes para usar sempre roupa limpa sem precisar lavar nenhuma!

YES, BABY!

Depois disso, almoçamos no Farmer's Market, um crepezinho francês SHOW DE BOLÊ! Pra quem não sabe isso é "show de bola" em francês. E ali, sentado na cadeira de ferro do Mercado do Fazendeiro, me senti um bandeirante, desbravando todo o mato que tinha no meu prato. Amigo!
VIREI UMA VACA! COMO SALADA TODO DIA, TÔ COMEÇANDO A GOSTAR! DEPOIS FICO RUMINANDO A SALADA NA MINHA MEMÓRIA!

Vacas tem memória?


Enfim.
Depois do Farmers Market, fomos ao LACMA (Museu de Arte do Condado d'Os Anjos / Los Angeles County Museum of Art).

É, garotão!

E sabe quem a gente encontrou lá? Mr. Steven!
Este homem era um idoso, sócio do museu, que tinha direito a dois ingressos pra exposição que nós iríamos (e fomos): a do TIM BURTON!
Mr. Steven, então, entrou na fila para pegar os seus ingressos, mas ele estava sozinho, então nos ofereceu um. Do alto de sua gentileza. E nós aceitamos, do alto de nossa humildade. Compramos o outro e entramos na fila para entrar na exposição. A fila estava enorme, e em 2 minutos de espera, Mr. Steven desistiu de esperar, e foi embora. Corri lá na frente da fila, pra perguntar se não tinha uma fila preferencial, que aquilo era um absurdo e blablabla. A mulher falou que eu podia mandar o Mr Steven falar com ela, que ela deixava ele entrar na hora.

E corri atrás do Mr. Steven.
Quando o encontrei ele havia acabado de dar o seu ingresso pra outra pessoa. Eu lhe disse que poderia ficar com o meu e que comprava outro, e ele falou que não era necessário. Ele voltará amanhã, pegará mais dois ingressos grátis, e não pegará fila.
UM. ANJO.

Entramos na exposição e foi maravilhosa.

Não pudemos tirar fotos.

Mas foi maravilhosa.

É só isso que vocês precisam saber.


Depois disso comemos pelo Lacma mesmo. Sob o frio do INFERNO DE GELO VIKING!

Fomos então para outra galeria, onde pudemos apreciar a companhia das obras de Picasso, Matisse, Duchamp e outros grandes artistas. As obras deles eram quase tão fantásticas quanto a Marcela, uma obra de Deus.

Depois disso voltamos ao Albergue. A Marcela está muito cansada e com dor de cabeça e, por isso, pediu que eu assumisse o seu blog por hoje.


E como o pedido da patroa é ordem, cá estou, presenteando vocês com o meu estrambônico estilo de escrita.


Direto da terra dos atrasados, em que todos são pontuais,

O seu correspondente brasileiro na California.
Alberto Naar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

20/10

Quinta-feira. Dia de acordar cedo e partir para o Instituto. A primeira aula era de Método e começou com o relaxamento. Em vez do exercício com a bebida do café da manhã, praticamos nossa memória sensorial aplicando maquiagem imaginária de frente para um espelho imaginário com os olhos fechados. Devo dizer que no caso do Alberto, único homem da turma, foi fazer a barba. Todos os movimentos tinham que ser muito lentos para conseguirmos sentir o máximo possível. O mais difícil para mim foi me enxergar de olhos abertos no espelho. Porque, quando eu tentava, era uma mémoria e não a minha imagem do momento. E a ideia não era sair do momento. Foi um bom exercício. O próximo passo era fazer as leituras dramatizadas das cenas que ela tinha escolhido para cada um na aula passada. Eu adorei a cena que ela escolheu pra mim, então estava bem ansiosa para fazê-la. Acabou que todas as cenas que ela tinha pedido eram grandes demais e foram reduzidas. O Alberto não ficou muito satisfeito com a leitura dele. Saiu bem chateado porque achou que gaguejou demais. O texto dele era muito difícil e cheio de bifões. Natural que tenha tido dificuldade com o inglês na primeira leitura na frente de todos. A minha cena foi uma das últimas. Ela primeiro pediu pra gente começar da metade da cena, que eu não dominava tão bem. Mas aí chegamos à conclusão de que o começo era melhor e fizemos a leitura a partir do começo. De nove páginas e meia, agora só tenho que decorar três páginas e meia. Bem tranquilo. Embora eu quisesse fazer a cena toda. Quem sabe rola uma tradução do texto depois para montar a peça no Brasil..? É uma ideia. Enfim, eu fiquei satisfeita com a leitura. Me diverti fazendo! É tão bom fazer o que se ama. Mesmo que só numa leitura. O inglês só deu umas escorregadas, mas não me derrubou. Me senti confortável fazendo em inglês. Talvez porque eu tenha estudado bem a peça e a personagem. Quando desci do palco, meu amor me mostrou as lágrimas em seu rosto de emoção de ver em cena. Nada melhor pra auto estima do que um namorado apaixonado. Agora é decorar e ensaiar para a última aula. Depois da aula de Método, fomos em direção ao nosso restaurante de sempre porque era perto de uma loja de brinquedos onde eu queria comprar um objeto para o meu teste da aula seguinte. Conseguimos comprar, almoçamos e depois nos separamos porque o Alberto queria ir no albergue buscar o terno pro teste e eu não queria correr depois do almoço. Fui caminhando devagar, sozinha mesmo, até o curso e cheguei a tempo. Ele se atrasou um pouco, mas menos do que o professor e apareceu lá já vestido, causando um alvoroço da mulherada. Devo dizer que ele fica mesmo um galã de terno! O motivo dele se vestir assim era que na cena era dito que ele se vestia como uma advogado e, como ele é muito dedicado, mesmo sem concorrência, quis estar de acordo. A cena era curta e aparentemente banal, sem muitas informações ou emoções. Esse era o desafio. Conseguir criar vida a partir de quase nada, que é o que muitas vezes você recebe num teste por aqui a não ser que você seja um dos grandes. A cena era um cara e uma mulher no elevador. Depois de um blackout, as luzes voltam mas o elevador continua preso entre dois andares. Ela reclama e diz que está atrasada pra um compromisso do outro lado da cidade. Ele oferece o celular, mas ela diz que não tem serviço nesses elevadores e agradece a oferta. Ele diz que deve voltar a funcionar a qualquer momento e que ainda bem que ele não é claustrofóbico. Ela diz que também não, mas que tem medo do elevador cair. Ele diz que os elevadores são construídos com muitas medidas de segurança e ela pergunta quanto tempo ele acha que vão ficar presos. Ele diz que não tem ideia e se apresenta. Ela também se apresenta e pede confirmação se ele trabalha pra uma tal empresa. Ele diz que sim. Ela diz que a empresa ocupa todo o andar 28 e que ele se veste como um advogado, mas ela acha que ele é um contador. Ele pergunta se ela prevê o futuro e ela diz que não, que ela trabalha pra viver. A cena é só isso. À primeira vista, me pareceu uma ceninha de início de romance. Mas tínhamos que ser criativos. Então, inspirada na minha busca por ser a nova Angelina Jolie, resolvi transformá-la numa cena de ação, espionagem, sabotagem e assassinato. A minha personagem tinha armado para cortar a luz e ficar presa com seu alvo no elevador. Então, ela finge que o celular dela não está funcionando e diz que está atrasada, para ele oferecer o celular. Fingindo que está verificando o sinal, ela tira o chip do celular dele e guarda na bolsa. Depois, ela brinca um pouco com os sentimentos dele sugerindo que o elevador pode cair e seduzindo de leve. Quando ele se apresent,a ela aproveita para confirmar se ele é o cara certo perguntando sobre a empresa onde ele trabalha. O comentário sobre o trabalho dele já tem um pouco de sarcasmo, já que ele não é nem advogado nem contador, e sim um espião. Quando ele pergunta se ela prevê o futuro, ela abre um sorriso fofo e carinhoso ao dizer que não para em seguida apontar uma arma para cabeça dele e dizer que trabalha para viver. Na hora, saiu tudo como o previsto. Para minha sorte, o Alberto que leu o homem pra mim e eu tinha ensaiado com ele. Claro que no ensaio sempre é melhor, mas fiquei satisfeita. O professor ficou muito surpreso e deu uma gargalhada no final dizendo que eu tinha feito uma escolha muito inteligente. Parecia que ele tinha gostado bastante. Como a minha interpretação era ousada e, provavelmente, se fosse um teste real o diretor ia querer ver depois disso se eu poderia fazer como a personagem do filme precisaria fazer, ele me pediu pra fazer outra vez. Da segunda vez, eu tinha que fazer como se o tempo todo eu só estivesse mesmo morrendo de medo do elevador cair. Fiz e ele disse de novo que eu era uma atriz inteligente e me deu parabéns. Provavelmente, quando assistirmos na semana que vem, eu vou achar horrível. Mas pelo menos hoje eu saí com a sensação de que fiz o melhor que podia fazer naquele momento. E isso já é uma boa coisa para mim que sou geralmente cruel comigo mesma. Ele não disse quem conseguiria o personagem como disse que ia fazer, mas disse que semana que vem todos assistiremos e chegaremos juntos a uma conclusão que ele vai nos induzir a chegar. Saímos da aula e voltamos pro albergue. No caminho, liguei o celular que estava desligado há semanas e recebi uma mensagem da minha querida amiga Débora, que acabou te trazer a vida ao seu filho Gabriel ontem à noite, pra quem eu desejo toda a felicidade do mundo. Meus parabéns também para a tia Ângela com quem eu consegui falar graças à tecnologia bem no único horário em que a diferença de fuso-horário permitia. Tive uma grande surpresa ao receber uma mensagem da minha mãe dizendo que tinham achado as minhas coisas na rua e ligado para a American Express, que ligou pra ela e me deu o telefone da boa alma. Não vou pegar nada de volta porque ela mora em outra cidade e eu já tinha cancelado os cartões. Mas foi bom poder agradecer a preocupação e o trabalho que ela teve para me ajudar. Saímos para comer e comprar água e algumas coisas para fazer curativo pros joelhos do Alberto e voltamos pro albergue. Hoje completamos 30 dias de viagem. Passou tão rápido e ao mesmo tempo parece que foram meses de vivências! Só escrevendo todos os dias para conseguir não deixá-las se perderem na memória. Ainda assim, sempre que acabo de escrever vejo que esqueci de alguma coisa, ou algumas. Ontem, por exemplo, esqueci de comentar que o Alberto cismou com um blazer de veludo marrom num brechó aqui perto. Eu não gostei muito não, mas vestiu bem. Ficou estiloso, embora eu ainda não tenha certeza se gosto do estilo. Enfim, o que fez ele sair da dúvida e comprar o casaco foi a etiqueta: Academy Awards Clothes! A gente nem sabia que isso existia e continuamos sem certeza do que quer dizer. Mas se podia ser mais um sinal do caminho para o Oscar, melhor não deixar passar. Agora vou dormir porque amanhã não tenho que acordar cedo, mas também não faz mal não acordar tarde e aproveitar melhor o dia.

Obs 1: Depois desses 30 dias pode ser um pouco tarde para dizer, mas eu nunca releio o que escrevo porque fico com preguiça depois de escrever e geralmente já está na hora de dormir. O que quero dizer com isso é: perdoem os possíveis erros na escrita que cometo no caminho, por favor.

Obs 2: Eu sei que é um pouco ruim de ler tudo assim num bloco gigante de palavras, mas eu gosto de escrever da maneira que penso e os pensamentos não tem parágrafos. Eles vêm assim mesmo confusos e embolados. O que quero dizer com isso é: perdoem a desorganização no design dos textos.

Obs 3: Chega de observações.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

19/10

Dia sem aula. Resultado: acordamos 11h e perdemos a hora do café da manhã do albergue. O corpo todo doía, bem como eu previa. Os planos para o dia eram almoçar, ir ao museu na exposição do Tim Burton e depois ao cinema. Achamos um restaurante que parecia interessante no caminho e por lá ficamos. Foi uma ótima escolha porque a comida estava deliciosa. Comi um salmão grelhado com purê de batata e cenoura. Devo registrar aqui que finalmente meu amor resolveu se mostrar disposto a emagrecer e pediu um prato de salada que ele comeu inteiro. Coisa que eu nunca tinha visto ele fazer antes. Na hora de pagar, uma surpresa. Eu não tinha levado bolsa por causa das dores no corpo e por isso só guardei o que precisava levar no bolso. Mas não estava mais lá. Provavelmente caiu do meu bolso no caminho. Fizemos todo o caminho de volta rapidamente na esperança de reencontrar minhas coisas. Mas não deu. No fim não foi nada grave porque estava só com a cópia do passaporte e o meu cartão de débito com os dólares dava pra cancelar e usar o reserva que estava guardado. O cartão de crédito tive que pedir pra minha linda mamãe bloquear. Mas ele não deve me fazer falta. E o dinheiro... Bom, espero que quem tenha encontrado seja alguém que estava precisando e não vai me fazer falta. Ficamos na dúvida se andávamos tudo de volta pra visitar o museu que é um pouco longe. Mas acabamos descobrindo pela internet que quarta é o único dia que ele não abre. Sobrou mesmo o cinema, dessa vez o mais perto. O filme do Johnny Depp só estreia dia 28. Então, fomos ver o do Brad Pitt chamado Moneyball. O filme não é nada demais mas ele está muito bem. Valeu a distração. Voltamos pro albergue um pouco tarde de maneira que tenho que parar por aqui pra dormir e acordar cedo amanhã.

Obs: Eu sempre esqueço de comentar, mas durante a viagem já descobri dois fios de cabelo branco. A idade chega para todos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

18/10

Acordei morrendo de sono por ter ficado estudando o texto até tarde. Mas, infelizmente, não dava para pedir pra aula esperar mais um pouco enquanto eu dormia. Engoli um pouco de cereal e levei o café pra ir tomando no caminho na esperança de acordar um pouco mais. A primeira aula era de Método com a professora que gosta de despertar as emoções mais profundas e não fica satisfeita enquanto não estiver todo mundo chorando. O primeiro exercício, depois do relaxamento, foi pra trabalhar a memória sensorial. Tínhamos que pensar em alguém que em algum momento nos tivesse feito sentir como se não fossemos bons o suficiente. Aí, tínhamos que nos sentir num lugar associado a essa pessoa ou a esse momento. Tentar recuperar a sensação do chão desse lugar, da janela, dos móveis, os cheiros, os objetos. Tínhamos que buscar ouvir a voz dessa pessoa nos chamando, visualizar a roupa que ela estava vestindo, depois tentar sentir seus cabelos, sua pele, seu perfume e aí dizer para ela o que você estava sentindo, o quanto ela tinha te magoado e o que gostaria que ela fizesse. Ela conseguiu. Lágrimas rolaram por todos os cantos. Depois do exercício, tínhamos que pensar em como poderíamos emprestar aquele sentimento e aquelas sensações para o personagem que estamos trabalhando e escrever o que poderia ter acontecido com ele para ele se sentir assim. Aí tivemos um pequeno intervalo e na volta começamos a trabalhar com os animais que ela tinha pedido na última aula. Cada um tinha pesquisado um animal que representasse o seu personagem e individualmente tínhamos que ir pro palco e nos transformar nesses animais. Depois, descrever as sensações e ela e o resto da turma também diziam o que tinham visto para ajudar na nossa construção. O meu era o único animal que voava, o que acabou sendo uma sorte porque a maioria das pessoas machucaram os joelhos no exercício. O Alberto foi um lobo e se empolgou na intensidade de maneira que ficou todo roxo, ralado e queimado nos joelhos. Mas ele fez bem. O meu era uma águia, predador que enxerga longe e é capaz de defender seu território com a sua vida. Não deu tempo de começar as entrevistas como se fossemos os personagens. Ficou para semana que vem, na última aula. A aula seguinte foi de luta e mais uma vez eu sobrevivi sem um arranhão. Impressionante! Estou muito feliz com meus resultados nessa aula. Se fossem três meses e não três semanas eu até poderia ser a nova Angelina Jolie. Na primeira parte da aula, fizemos uma revisão do rolamento, da queda pra frente e da queda de costas. Os três em sequência repetidas vezes. Depois aprendemos a socar de várias maneiras e a reagir ao soco. Foi muito divertido! Mas também exaustivo. O soco para câmera nem encosta na outra pessoa. Tem uma distância de segurança que, com a câmera no ângulo certo, parece que acertou. Se a outra pessoa reagir na hora certa, claro. Dores no corpo garantidas para os próximos dias. Depois da aula, o Alberto me fez ir mais uma vez na drogaria do Steven Spielberg. Acho que ele está tentando um segundo encontro. Na verdade, ele ainda estava com dor de estômago, mas lá também não tinha Buscopan. Voltamos pro albergue e de lá não saímos mais porque estávamos realmente cansados.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

17/10

Antes mesmo de acordar, passamos o texto da cena que faríamos na aula. Sabendo que estava tudo na cabeça, pudemos dormir até um pouco mais tarde. Almoçamos no nosso restaurante de quase sempre, mas o Alberto não estava se sentindo muito bem. Dor de estômago que ele costuma ter de tempos em tempos. Caminhamos em direção ao curso e eu estava mega nervosa! A aula começa e... surpresa! A cena não era para hoje. Foi só um truque do professor para fazer a gente começar a prepará-la para semana que vem. E eu crente que ia poder fazer e apagar o texto da cabeça pra dar espaço para o da peça que é gigante. A aula seria sobre audição, o que me deixou confusa já que temos uma matéria só pra isso e só três aulas de Acting for TV and Films. Parece que vamos ter que pedir pro professor de audição inverter e dar o que o outro deveria. Aprendemos como deve ser uma boa headshot (foto de rosto que todos os atores precisam ter) e o currículo. Depois recebemos cenas para fazer em dupla como se fosse um teste e tínhamos 15 minutos para preparar a leitura. Aqui não é necessário que você decore o texto para o teste, embora seja recomendável. Em 15 minutos, com a pressão e em inglês, não decorei nada. A minha cena era de dois homens e só depois fomos informadas que era pra fazer como se fossem mulheres. Acabou sendo confuso. Coincidentemente ou não, me colocaram pra fazer com a mesma menina com quem vou fazer a cena na outra aula. O problema é que ela é uma típica americana, ou seja, fala muito rápido. De maneira que na hora em que está nervosa ela fala mais rápido ainda e quando ela falou a primeira fala eu não tive nem tempo de perceber que ela tinha começado, e não respondi. Ela perguntou se eu ainda não estava pronta em vez de continuar na cena e me fazer ouvi-la. Mas eu realmente achava impossível que ela já tivesse falado tudo e nem entendi que era pra eu ter falado. Enfim... Depois a cena seguiu sem maiores problemas. Mas, definitivamente, foi muito difícil e eu não saí muito satisfeita não. Pra ser sincera, saí da aula estourando de dor de cabeça (esse professor também fala rápido demais e quase o tempo inteiro, dando uma canseira no meu cérebro) e querendo voltar pra minha terra onde eu posso ser atriz em paz na minha própria língua. Pior que perdemos o fim de semana ensaiando a cena que não aconteceu e ainda tínhamos que fazer todo o trabalho para a aula do dia seguinte de manhã. Resolvemos passar na farmácia pra procurar Buscopan pro Alberto e não achamos. Como eu não estava em condições de começar a trabalhar, resolvi enrolar na rua mesmo sem tempo pra isso. Resultado: só acabei uma da manhã e nem consegui escrever minha postagem do dia.

domingo, 16 de outubro de 2011

16/10

Dia de muito esforço mental. Depois de todos esses dias, não tínhamos ainda encontrado uma cena para fazer amanhã na aula de Interpretação para Cinema e TV. Temos um livro com várias cenas, mas não podia ser qualquer uma. Tinha que ser uma que os dois achassem interessante, que não precisasse de um cenário específico ou tivesse muita ação. Tinha que ser baseada no diálogo. Mesmo porque não teremos nenhum cenário para fazer além de cadeiras e no cinema não dá para fingir como no teatro. Também tinha que ser uma cena com começo, meio e fim que fossem compreensíveis destacados do resto do filme. Além disso, tinha que ser de um filme que não tivéssemos assistido ainda. O professor requisitou isso para evitar que tentássemos copiar o original mesmo que insconscientemente. Mas se não podíamos assistir o filme, tínhamos que ler o roteiro, pois era necessário conhecer bem os personagens para identificar em que momentos eles diziam a verdade e em que momentos mentiam e o porque. Não dá para acreditar em todas as falas que se lê porque os personagens mentem e nem sempre dá pra identificar numa cena isolada. Pra isso, você tem que conhecer os objetivos dele. Enfim, passei a manhã lendo cena por cena do nosso livro até achar uma que me agradasse. O Alberto concordou com a minha escolha e o próximo passo foi pesquisar sobre o filme na internet. O nome é The Clerks, O Balconista em português. Depois de achar algumas informações, tive a sorte de achar o script inteiro em um site. Cena definitivamente escolhida. Saímos para almoçar e conseguimos não nos distrair e voltar logo. Ler o script inteiro demorou um bom tempo, mas nos mostrou que a cena era outra e que tínhamos sido enganados pelas falas. O filme não deixa absolutamente claro o quão mentirosa é a minha personagem, mas dá uma boa ideia de que quase tudo que ela diz na cena é mentira. Ainda bem que lemos tudo! O problema é que só ficamos prontos para começar a trabalhar a cena e decorar o texto umas 20h. Não é nada fácil ensaiar uma cena em um idioma diferente do seu. Muito estressante! Até porque muitas vezes você não tem nem certeza se o que está falando faz sentido enquanto frase. Ensaiamos por duas horas e decorei quase tudo. Tem umas partes mais difíceis que preciso insistir mais, mas tive que sair do quarto um pouco e vir aqui escrever porque meu processo e o do Alberto não são muito compatíveis. Ele não consegue trabalhar dentro da própria cabeça e tem que ficar repetindo em voz alta para decorar e para desembolar a pronúncia do inglês, o que estava me enlouquecendo um pouco. Mas a gente sobrevive. Espero que amanhã as palavras não me abandonem sozinha em cena. Enquanto isso, tenho que voltar a trabalhar para que isso não aconteça e aprender a mentir com as palavras certas sem parecer estar mentindo.

15/10

Sábado. Mais uma vez é dia de estudar. Mas para isso, eu tinha que antes buscar a peça que preciso ensaiar na livraria. Acabou que o destino, que parecia não estar querendo me ajudar nessa, nos levou a essa livraria que fica no Farmer`s Market. Uum lugar incrível e mega famoso por aqui que fica super perto do albergue, mas que a gente ainda não tinha ido. Inclusive descobrimos que lá tem um cinema onde com certeza vamos da próxima vez que formos assistir a um filme. Eu já tinha ouvido falar, mas achava que o Farmer`s Market era um supermercado. Na verdade, é um mistura de Downtown (aquele shopping a céu aberto da Barra) com Cobal (na falta de uma comparação melhor). Lojas para todos os interesses, restaurantes, cinema, supermercado, quiosques, feira e lugares especializados em comidas de diversas partes do mundo. Diante disso, a nossa ideia que era ír lá, comprar o livro e alguma coisa no supermercado para passar o resto do dia no albergue, foi por água abaixo. Saímos do albergue umas 11:30 e só cheguei de volta às 16:30. A livraria era a Barnes & Noble com seus três andares cheios de coisas para distrair os nossos olhos e tentar os nossos bolsos. Fui no caixa pedir a minha encomenda, mas a funcionária não conseguiu encontrar e teve que pedir pra uma outra descer com outras encomendas que também não eram a minha. Aí, ela teve que pedir pro gerente dela, que procurou na seção onde o livro deveria estar e parecia esgotado. Mas eu tinha recebido um e-mail de confirmação! Depois de uns 20 minutos de espera, a caixa achou a minha encomenda bem no lugar onde deveria estar, na cara dela o tempo todo. Mas devo dizer, o livro era tão fino que não me espanto que ela não tenha visto. De lá, tivemos que dar uma volta pelas outras lojas. Tinha um lugar bem lindo no meio do pátio com fontes e estátuas e até um trem super estiloso para passear dentro do shopping. O tempo foi passando e a fome chegou. É, teríamos que almoçar por lá mesmo. Achamos uma Pampa Churrascaria brasileira, mas não comemos lá porque era meio caro. Acabamos comendo numa creperia francesa, onde o Alberto não comeu crepe, mas um sanduíche e eu comi um crepe de Nutella. Ainda passeando por lá, uma miragem... Leite condensado! Na verdade, La Lechera ou coisa assim. Versão em espanhol do nosso Moça, da Nestlè mesmo. Lógico que comprei. Pena que só uma latinha. O Alberto estava um pouco ansioso para começar a ler a peça dele e voltou pro albergue enquanto eu me decidia na Victoria's Secret cheirando inúmeras fragrâncias. Foi a primeira vez que caminhei sozinha por aqui e me deu uma sensação boa. Cheguei no albergue só uns 10 minutos depois dele e ele ainda nem tinha começado a ler. Eu mesma acabei demorando horas na internet conversando antes de ler a minha peça. Fui pro quarto e devorei o texto enquanto o meu amor caçava um achocolatado pra fazer meu brigadeiro. Ele demorou bastante porque até achocolatado é difícil de achar. Eu não entendo como os americanos até hoje não conhecem o nosso brigadeiro. Ele acabou achando um achocolatado inglês. A peça que foi escolhida para mim é muito interessante. Uma verdadeira aula sobre os podres da indústria do cinema. São 4 personagens: duas atrizes, o produtor do filme e o autor do filme. Todos querendo se dar bem não importando por cima de quem seja necessário passar. Infelizmente, quanto mais você sobe nessa profissão, mais tem que aprender a lidar com esse tipo de coisas e pessoas. Mas eu adorei a minha personagem! É uma atriz, o que implica em muita complexidade e emoções transbordantes que eu conheço bem. Além disso, ela tem uma personalidade forte, marcada pela luta de leões por um lugar ao sol. A cena é longa. Muito texto em inglês para decorar. Mas vale a pena fazer. O Alberto também amou a cena dele. Parece que essa professora sabe o que faz quando escolhe. Quando acabei de ler, vim escrever aqui. Mas fui interrompida pelo meu amor que estava com problemas para usar a cozinha do nosso albergue, que a gente nunca tinha usado antes. O fogão não acendia. Procuramos por todo canto um fósforo ou acendedor automático e nada. Ele disse que ia sair para comprar um fósforo porque tinha vergonha de perguntar pra alguém como fazia. Surpreendemente, eu acabei me encarregando disso e pedi socorro pra um dos caras que trabalham aqui. Ele veio ajudar, mas também não sabia muito bem como. Acendia uma chama piloto no fogão. O problema era espalhar, o que ele tentou fazer com papel sem sucesso e quase se queimando. Acabou pedindo ajuda de um outro que depois de um tempo conseguiu soprar a chama até ela se espalhar. Esse foi o brigadeiro mais caro, difícil e trabalhoso da história. Brigadeiro pronto, fomos descobertos por outro brasileiro do albergue que reconheceu o nosso prato peculiar e conversamos com ele por um tempo. Ele é de São Paulo e está viajando há um tempo pelo país pra onde o vento o leva. Separamos um pouco de brigadeiro para os nossos dois ajudantes que nunca tinham provado antes. Adoraram! E vim aqui terminar de escrever adicionando nossas novas aventuras. O brigadeiro ficou bom, mas eu ainda prefiro com Nescau. Agora preciso dormir porque amanhã tenho que ser forte para não deixar nada nos distrair dos nossos estudos porque ainda temos que achar uma cena para a aula de vídeo de segunda.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

14/10

Sexta-feira. Como o tempo está passando rápido, resolvi programar o nosso dia do meu jeito. Planejei passo a passo para não ter erro. Saímos do albergue 12:30 e, pela primeira vez em Los Angeles, nos aventuramos a pegar um ônibus. O destino era velho conhecido, a Samuel French Bookstore. Mas, como íamos andar bastante depois, resolvemos economizar a caminhada nesse pedaço que já não tem novidades. Demos sorte de o ônibus passar rápido. O transporte público aqui é pouco e raro. Naquela hora ele passava a cada 20 minutos, mas à noite pode demorar até 1 hora para passar. Pretendia pagar as nossas passagens com uma nota de 5 dólares, mas só tinha como pagar colocando o dinheiro na máquina e essa máquina não dá troco. Você sempre tem que pegar o ônibus com o dinheiro trocado ou comprar um cartão com passagens antes. Contamos as moedas e deu pra pagar. Dentro do ônibus, tem uns letreiros eletrônicos que avisam quando está se aproximando da próxima parada e nome da parada que é sempre a interseção de uma rua com a outra. Bem tranquilo de acertar. Descemos e fomos pra livraria de sempre em busca das peças que temos que estudar. O Alberto não tinha entendido direito o nome da peça dele, mas como era famosa achou que entenderiam lá. E entenderam mesmo. O nome era Loose Ends e tinha pra vender. Já eu, descobri que a professora falou errado e em vez de três eram quatro cachorros no nome da peça. Ok, se não fosse o fato de estar esgotada na melhor livraria de teatro da cidade. Ele disse que eu poderia comprar pela internet. O problema é o tempo para a entrega que eu não tenho. Como estávamos perto e com fome, voltamos no restaurante brasileiro para nos deliciarmos de novo com a picanha com arroz, feijão e batata. Estava tão bom quanto na primeira vez. Na mesa do lado, produtores engravatados discutiam o roteiro de um filme. Depois de devidamente satisfeitos, fomos finalmente para a Hollywood Boulevard! Andando na rua me dei conta de como é bom estar num lugar onde a principal profissão é a nossa. Onde os artistas não respeitados e amados e não vistos como loucos dispostos a passar fome. Calçada da Fama, aqui estamos nós! Foi legal mas também um pouco decepcionante porque esperava ver os pés, mãos e assinaturas dos artistas. Agora à noite no albergue é que descobri onde fica essa parte. Voltamos outra hora. O que vimos hoje foram as milhares de estrelas no chão com os nomes dos famosos. Pesquisando na internet é que fiquei sabendo que, se o artista for escolhido para ganhar uma estrela na calçada, ele tem que pagar 15 mil dólares pelo seu pedacinho de chão. Mas a calçada não era nosso objetivo e sim nosso caminho. Fomos na loja da Swatch apertar meu relógio, dessa vez com sucesso. Essa loja ficava simplesmente no mesmo shopping do Kodak Theatre, que eu nem sabia que ficava dentro de um shopping! Na frente do shopping, ficam muitas pessoas caracterizadas tentando granhar uma grana tirando fotos com os turistas. Aproveitamos para comprar nossos super ingressos nos melhores lugares para assistir o Cirque du Soleil lá no Kodak Theatre. Toda essa emoção se dará no sábado da semana que vem, dia 22, às 14h. No mesmo shopping, dá para ter uma boa visão do letreiro de Hollywood e conseguimos tirar umas fotos para provar que aqui estivemos. Na verdade, foi o nosso primeiro dia com fotos por aqui. Na subida para o teatro, tem colunas onde se pode ler os nomes de todos os filmes que já ganharam o Oscar em seus respectivos anos e os anos futuros ainda em branco. O passo seguinte da minha programação era ir ao cinema em Hollywood. Pode parecer fácil, mas não tem muitos cinemas por aqui como é de se imaginar. Fomos nesse que era na Sunset Boulevard mas bem mais longe do que já tínhamos chegado antes. Valeu a pena ir longe porque o cinema era uma atração em si. Lindo e enorme, com 14 salas. O filme escolhido foi um que o Alberto estava doido para ver chamado 50/50. É a história de uma cara novo que descobre que está com um tipo raro de câncer e tem 50% de chance de sobreviver. As poltronas eram muito confortáveis e espaçosas. Segundo meu amor, porque tem muitos americanos gordos. O cinema estava bem vazio para uma sexta-feira mas ainda eram 17:45. A qualidade da imagem me pareceu melhor do que a que estamos acostumados. Antes de começar a sessão, entrou um funcionário do cinema informando a duração do filme e onde deveríamos reclamar caso o volume do som ou alguma coisa não estivesse satisfatória. O filme é muito bom! Tomara que lancem no Brasil também, mas eu acredito que sim. É de chorar, mas não de passar mal. Pena que aqui a gente não paga meia, mas semana que vem teremos que ir de novo para assistir o filme do Johnny Depp que vai estrear, do qual nosso professor de audição participou. O nome é The Rum Diary. Não sei do que se trata mas eu amo o Johnny Depp! Saímos do cinema e caminhamos de volta para a Hollywood Boulevard para pegar o ônibus de volta. Fomos desistindo dos pontos e caminhando mais até chegarmos no ponto do Kodak Theatre onde esperamos um bom tempo. Um pouco mais do que gostaria mas, antes tarde do que nunca, ele apareceu e nos deixou com segurança no albergue. Chegando aqui, comecei a procurar na internet o livro que preciso e acabei encontrando uma loja que tem dispónível e que dava para fazer uma reserva pela internet. Espero que tenha mesmo porque pedindo online só chega segunda e eu tenho muito trabalho pra fazer com ela até terça. Agora é dormir e descansar depois de um dia de emoções em Hollywood.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

13/10

Últimas primeiras aulas. Acordamos cedo com um sono danado e fomos caminhando para o curso por um caminho um pouco diferente. Em vez de seguirmos pela nossa rua, que é uma avenida gigante, pegamos uma ruazinha cheia de casas lindas típicas do american way of life. Agora que já não estamos tão perdidos, a cidade não é tão assustadora. Dá até pra se imaginar morando aqui. Exceto pelo fato de aqui não tem brigadeiro, o que não dá pra viver sem e, lógico, minha família amada. A primeira aula do dia foi de Método, mas com uma professora diferente da de terça. Essa parecia bem mais com as professoras de teatro que estou acostumada a encontrar. Fizemos primeiro um exercício para liberar todas as tensões do corpo, porque tensões desnecessárias podem disperdiçar energia cênica. Concentração e relaxamento parte por parte liberando a tensão através de sons de alívio... Aaaaah.... Foi ótimo. Até porque estávamos todos ainda quebrados por causa da aula de Film Fighting. Tudo dói! Depois fizemos um exercício para estimular nossa memória sensorial. Breakfast drink. Tínhamos que de olhos fechados enxergar primeiro o recipiente vazio da nossa bebida de café da manhã. Suas cores, textura, temperatura, cheiro... Depois com o líquido da nossa preferência. Não foi muito difícil para mim, já que tomo iogurte todos os dias na minha caneca de vaquinha há mais de quatro anos. Na verdade, foi uma delícia fazer o exercício porque, depois de mais de 20 dias, estou morrendo de saudades do meu iogurte e da minha caneca. Consegui vivenciar seu cheiro, seu gosto, temperatura... Às vezes eu perdia a sensação, mas em outros momentos me sentia em casa, sentada na minha cama, de frente pra minha mesa. Foi tão reconfortante! Cada um comentou um pouco sobre a experiência e passamos ao exercício seguinte. Pra minha sorte, minha primeira cena de verdade no palco do curso não precisava de fala alguma. Era um exercício de entrada e saída. Você tinha que decidir de onde você vinha, entrar no palco que estava arrumado como um apartamento e que seria a nossa casa, viver ali por um tempo determinado e depois sair sabendo para onde estava indo. Bem simples e complexo. Durante a cena você tinha direito a fazer ou receber uma ligação. O exercício era individual e por ordem alfabética. Acontece que aqui a ordem alfabética é por sobrenome e meu amor, que está acostumado a ser sempre o primeiro, é aqui o penúltimo, vindo logo depois de mim na lista. Escolhi minha situação e fiquei torcendo para ninguém fazer a mesma antes de mim, porque isso às vezes acontece e no fim da cena a gente tinha que dizer do que se tratava. A situação podia ser tirada da sua vida pessoal ou inventada. Bom, a minha personagem tinha acabado de chegar do laboratório onde descobrira que estava grávida e tinha um encontro com o namorado depois onde ela teria que contar a notícia. O problema é que ela não queria mais ficar com ele e não tinha certeza se ele era o pai. Foi muito interessante de realizar e intenso. Parece que todos gostaram. Eu optei por não usar o telefonema e fazer a cena sem falas mesmo. Mas, curiosamente, durante a cena eu pensava em inglês. As pessoas ficaram um pouco preocupadas em saber se era uma história real, o que definitivamente não é. O Alberto fez um cara que chegava de um jogo de futebol e tinha sofrido uma lesão no tornozelo que mal deixava ele andar. Expressou muita dor, mancou pelo espaço à procura de um remédio, tomou um e saiu para o hospital fazendo a professora rir porque ela tinha ficado preocupada acreditando na dor dele. Ficamos ambos felizes com o resultado um do outro. No fim da aula, ela escolheu cenas em dupla para cada um a partir do pouco que tinha nos conhecido. Vou fazer uma cena com a Laura que foi a primeira que conheci assim que chegamos no Instituto. O nome da peça é Três Cachorros para um Osso. Eu nunca ouvi falar, mas vou ter que comprar amanhã porque a gente tem que ler a peça toda até terça. Hoje, tínhamos uma hora e meia de almoço. Tempo suficiente para ir ao nosso restaurante preferido. O Melgard Public House, que pertence a um francês e onde todas as comidas são deliciosas. Provamos a carne e era exatamente o gosto que estava com vontade de sentir. Tão bom quando isso acontece! Voltamos nos arrastando num calor de rachar pra nossa outra aula. Não comentei antes, mas o único dia que choveu foi quando chegamos. Todos os outros tem feito sol e calor. A aula seguinte, última primeira aula, foi de Audition Techniques. Aula de aprender a fazer testes. O professor dessa aula é o máximo! Tipo de pessoa que consegue fazer todo mundo se sentir confortável. Muito simpático, engraçado e alto astral. Nos deu conselhos preciosos. Nos disse que tudo que precisamos é descobrir quem somos e nos amarmos como somos e aí seremos livres para conseguirmos o que quisermos. Fizemos um exercício simples de como entrar num teste. Cada um tinha que entrar, cumprimentá-lo como se ele fosse da banca de seleção, olhar para o câmera e dizer o nome. Depois ele fazia alguma perguntas e rolava essa conversa na frente das câmeras. Depois todos assistimos às filmagens. Mas ele é tão gente boa que nem deu para ficar nervosa. Me perguntou há quanto tempo eu estava com o Alberto e quando eu disse que já estava há 4 anos ele teve a mesma reação de todos os americanos... "E ele ainda não te pediu em casamento?" Parece que por aqui as pessoas não namoram por tanto tempo. Mas ele também disse que tudo bem porque ele mesmo já tinha casado 4 vezes. A entrevista foi tranquila. Teria sido melhor se não fosse em inglês. Recebemos uma cena curta para a simulação real de teste na semana que vem. A cena tem um homem e uma mulher, o que significa que o Alberto vai fazer com todas. E o pior... Ele realmente vai escolher quem ganharia o papel só para aumentar a tensão. Ainda bem que eu já comprei o ator para me favorecer...rs. Ele, por outro lado, não tem competição alguma. Papel garantido. Depois da aula andamos um bocado. Fomos na farmácia comprar água oxigenada para bochecar e ver se o dente melhora mais rápido. Fomos na livraria que já estava fechada e depois na loja de eletrônicos comprar os jogos de vídeo game para os nossos irmãos queridos. Quando chegamos no albergue já eram 20h. Só o tempo de descansar, comer alguma coisa e vir aqui tirar o atraso da escrita. Acabaram as aulas da semana. Mas ainda há muito trabalho a fazer. Três semanas passam voando e são pouco demais se você não der o seu melhor. Estou tentando dar o meu.

12/10

Dia sem aula. Minhas aulas por aqui são segunda, terça e quinta, mas acabou sendo um dia meio perdido. Saímos pela primeira vez em direção ao outro lado, para Beverly Hills atrás da loja da Swatch, apertar a pulseira do meu relógio. Mas o google maps enganou o Alberto e a tal loja já não existia mais. Ficava num shopping onde acabamos passando um tempo. As lojas mais próximas eram distantes o suficiente para a gente resolver deixar para outro dia. O único fato curioso do dia foi que, nos afastando de Hollywood, vimos pela primeira vez o seu famoso letreiro lá do alto do terraço do shopping. Foi a primeira vez que vimos a cidade sob essa perspectiva e foi uma boa experiência. De noite, deixei para escrever a postagem no quarto como de costume, onde a conexão é bem ruim. Mas ela dicidiu que não funcionaria e como eu fiquei com preguiça de destrocar o pijama, acabei não escrevendo nada.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

11/10

Segundo dia do Intensivo de Outono. E bota intenso nisso! Acordamos e fomos pra aula logo cedo. Nossa primeira aula era no palco Lee Strasberg. Aula de Método. Era uma professora. Então, o Alberto era o único homem presente mesmo. Ela começou perguntando o que a gente sabia sobre o Método desenvolvido pelo Strarberg e depois explicou um pouco sobre ele. É uma continuação da pesquisa do Stanislavski e do Boleslasvski e envolve muito o engajamento das emoções pessoais do ator. É mais viver o personagem no que interpretá-lo. E é disso que sempre gostei. Criar e viver outras vidas através da arte podendo assim tocar e com sorte transformar a vida de quem assiste. Nosso primeiro e, na verdade, único exercício da aula do dia era pensar num fato realmente marcante das nossas vidas. Algo que tivesse nos tocado profundamente e que a gente ia ter que relatar depois. O medo para mim era justamente o relatar depois, porque seria exigir um pouco demais do meu pobre inglês que pra entender vai muito bem obrigado, mas que para se explicar está longe de ser ideal. Mesmo assim fiquei com o primeiro fato que veio à minha cabeça. A proposta era irem duas pessoas para o centro da roda e uma das duas contar a sua história olhando nos olhos da outra. Essa, por sua vez, tinha que contar a história que tinha acabado de ouvir como sendo sua. Depois invertia. Foram 12 histórias contadas duas vezes cada uma, o que durou muito tempo e exigiu muita concentração por parte de todos. E as histórias não eram curtas não. Algumas eram maiores do que as minhas postagens...rs. Uma primeira conclusão: a vida real é muito mais bizarra e chocante do que a ficção! Todas aquelas pessoas se transformaram diante dos nossos olhos revelando parte do que são e do que a vida é quando olhada de perto. Ninguém passa por ela incólume. São tantos os traumas e histórias para conta! Mas, no fim das contas, são essas dificuldades que nos fazem crescer mais. Na aula passada, o professor tinha dito que geralmente os grandes atores são pessoas que sofreram grandes traumas. Bom, devem ter muitos grandes atores na minha turma. Ouvir os problemas dos outros também nos dá a real dimensão dos nossos. Enfim, quando chegou a minha vez eu fiz dupla com uma polonesa. Ela contou a história dela primeiro. Mas ela falava muito rápido e em certo ponto começou a chorar compulsivamente enquanto falava. Acho até que nem era inglês o que ela falou naquele momento porque eu não entendi uma palavra, nem o Alberto. Foi um desespero, mas reproduzi a história do meu jeito com as informações que tinha entendido. O ator precisa aprender a se emocionar mas com técnica, ou ninguém entende o que ele fala e aí não adianta nada. Mas o exercício não pedia isso. Tentei reviver a minha história com o máximo de detalhes possível e não chorei. Mas acho que isso indica que fiz direito, já que eu tinha que voltar ao momento e no momento em que minha história aconteceu eu não podia chorar. Tinha que ser forte. Consegui me fazer entender porque minha parceira polonesa reproduziu a história certa. Foi uma aula de muitas emoções e bastante material emocional com que trabalhar. Depois de um pequeno intervalo, ela passou uns trabalhos pra casa e tivemos só meia hora para sair para almoçar e voltar para a aula de luta. Não tem horário mais ingrato para isso do que imediatamente depois do almoço. Comi ainda menos do que de costume para não passar mal e corremos para a aula. Logo na hora de cada um se apresentar, já fui logo avisando que sou muito ruim em todos os esportes e muito boa em me machucar. Espero que isso não aconteça, lógico. Fizemos um bom aquecimento e alongamento. Me arrependi de ter saído da academia no fim de agosto. Mas aguentei na boa. Lições da primeira aula: como cair de frente, de costas, de lado e rolando. Devo ter me jogado no chão mais de cinquenta vezes. Sem maiores danos. Só dei com o nariz no chão uma vez! Tô super no lucro. Na verdade, não fiz feio não. Consegui realizar todos os movimentos e meu amor ficou super orgulhoso de mim. Sempre pedia para ele dar uma olhadinha se eu estava fazendo direito já que ele já tinha aprendido tudo isso no Krav Magá. Mas mesmo sem acidentes, o esforço físico foi muito pesado. As duas horas me pareceram umas quatro horas. Sempre que eu pensava que ia acabar, começava uma nova lição. Amanhã vou acordar com tudo doendo! Mas foi uma aula muito boa e descansou um pouco o meu cérebro. Depois da aula, o Alberto me fez andar até a farmácia onde ele conheceu o Steven Spielberg pra comprar uma máscara daquela de colocar nos olhos para dormir porque ele acha nosso quarto muito claro. Eu já estou acostumada com a claridade e não tenho nenhum problema para dormir. Não sei nem como andei até lá porque minhas pernas estavam sem força para nada. Mas fomos e depois resolvemos tomar um Milk Shake que acabou virando um Sundae. De volta no albergue, eu encostei na cama e desmaiei! Acordei só umas 20h e demorei uma hora pra conseguir ter coragem de levantar e vir pro lobby entrar na internet. A conexão dentro do quarto é muito ruim. Boa notícia: minha primeira análise foi aceita e validada. Já posso até me considerar uma parecerista capacitada para a função. Só falta saber se a Comissão vai acompanhar meu parecer. Boa notícia 2: consegui configurar o teclado do meu laptop e finalmente estou escrevendo uma postagem nele porque não ia escrever tudo sem acento e sem pontuação. Uma última informação: nossa turma é composta pro quatro americanas, duas alemãs, duas polonesas, uma norueguesa, uma chilena, uma grega e dois brasileiros.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

10/10

E, finalmente, chegou o primeiro dia de aula. Propósito principal de toda essa viagem. Tomei meu iogurte e vi que já tinham respondido a minha diligência no Ministério da Cultura. Mas deixei pra terminar minha análise no fim do dia. Saímos cedo para almoçar porque tínhamos que chegar meia hora antes da aula começar pra assinar os papéis e tal. Como o inchaço tinha melhorado um pouco, arriscamos uma comida mais mastigável. Tinha esquecido de comentar que o nosso vizinho, o cinema mudo, disse que o ingresso custa $18 mas que eles não estão vendendo ingressos. Vai entender... Parece que só está funcionando para sócios. Sim, você pode pagar um passe mensal ou anual, o que não é o nosso caso. Ah, os ônibus aqui tem uma estrutura na frente, do lado de fora para carregar as bicicletas dos passageiros. Bem legal! Almoçamos no restaurante do lado do que sempre vamos. Como já tinha um tempo que estávamos comendo bem, fomos comer porcaria pra variar. O nome da lanchonete era Johnny Rockets, bem tipicamente americana. Na Disney, eu sempre achava o menu infantil mais interessante, mas eu não podia comprar por ter mais de 9 anos. Mas nessa lanchonete eles permitiram e foi a melhor escolha. O pior é que nem assim eu consegui comer tudo sozinha. Alberto aproveitou para realizar seu sonho de fazer uma jukebox funcionar. Por 5 cents, ele pediu uma música dos Beatles pra acompanhar nossa refeição. Saímos a tempo de chegar no Instituto na hora, embora com a barriga tão cheia que estava difícil de caminhar. Fora o meu nervoso misturando tudo lá dentro. Entramos no Lee Strasberg Institute pela primeira vez e nos disseram para esperar numa sala logo na entrada. Uma menina de NY que ia fazer o curso com a gente me ofereceu o lugar do lado dela e começamos a conversar. Hora de colocar para fora todo o inglês que se esconde aqui em algum lugar da minha caixola. Até que eu entendi tudo que ela disse e ela também me entendeu. Conhecemos ainda algumas pessoas antes de entrarmos na sala. Na turma tem gente de todo canto do mundo, mas só mulheres. Achava que só teriam dois homens, mas parece que o outro desistiu e só sobrou o meu mesmo. Assinamos os papéis, um deles bizarro nos responsabilizando por qualquer dano que podemos sofrer durante as aulas de luta. Preferi nem ler os detalhes desse. Nossa primeira aula foi de Interpretação pra TV e Cinema com Sasha Krane, sobrinho do Strasberg. O cara é muito bom! A aula foi bem proveitosa! O problema é que ele não falava devagar por estar numa turma cheia de alunos estrangeiros, o que exigiu uma atenção absoluta durante todo o tempo pra entender o que ele dizia. Até que me saí bem no entendimento. Mas não me senti muito confiante pra falar muito. Nada de tão diferente de quando a aula é em português. Eu sou mesmo melhor de ouvir e absorver. Por ser o único aluno do sexo masculino, lógico que o Alberto virou o alvo da maior parte das piadas por parte do professor, que chama ele de Brasil. Apesar de parecer bastante inteligente, o nosso professor, como a orientadora que nos selecionou, também não sabia que língua se fala no Brasil. No começo da aula assistimos a uma cena do Poderoso Chefão, na qual tínhamos que identificar os objetivos dos personagens e tal. Na hora de perguntar quem tinha monólogos para trabalhar... silêncio absoluto. Todo mundo morrendo de medo de começar. A corajosa da vez foi uma russa muito simpática. Os voluntários pra ir depois dela foram o Alberto e eu, nessa ordem. Apesar de serem monólogos, as pessoas contracenavam com alguém que escolhiam. Ou seja, na cena do Alberto, lá estava eu. Cada um teve bastante tempo de trabalho na cena. Fazia uma vez e ele ia dirigindo e sugerindo exercícios pra melhorar a cena quantas vezes fossem necessárias pra chegar a algum resultado que desse para notar uma boa diferença. Meu amor mandou bem, mas foi melhorando com os ajustes. Coincidência ou destino, uma das propostas era que ele cantasse pra mim uma música romântica em português. Acontece que ele adora cantar e eu nunca deixo. Dessa vez tive que ouvir a música todinha. Não foi tão ruim assim. A cena melhorou depois. Hora do intervalo. A esse ponto estou muito nervosa. Tenho muito medo de esquecer tudo, de ele perguntar qualquer coisa e eu não conseguir responder em inglês, enfim... Acabou que ele não lembrou que eu tinha me oferecido no começo da aula e outra pessoa se ofereceu e acabou ocupando até o fim da aula. Minha participação hoje foi de cinema mudo. Mas deu para aprender bastante. Saí de lá com o cérebro doendo depois de quatro horas de aula sem legenda. Senti depois de tudo uma necessidade de rasgar a pele e soltar alguém que ainda se esconde lá dentro com medo de sair. Como se fosse agora ou nunca. Voar ou cair. Crescer ou crescer. Hora de parar de ficar bloqueando o meu caminho e me deixar passar. Espero conseguir cruzar a barreira logo. As coisas que ele falou fizeram muito sentido para mim. Ainda bem que está tudo gravado. Depois da aula foi um pouco difícil deixar aquele lugar. Conversamos um pouco mais com as pessoas da turma e voltamos para o albergue. Apesar da dor de cabeça por causa do esforço mental, resolvi ir direto trabalhar. Terminei e enviei meu primeiro parecer que espero que não contenha nenhuma impropriedade formal. Se tiver algum problema, eles devolvem e eu tenho a chance de consertar uma vez. Tomara que não. Conversei um pouco com a minha linda mamãe de quem estou morrendo de saudades. Aproveito pra mandar melhoras pra vovó Ieda que está gripada e que eu espero que fique boa logo e um beijo pro vovô com o meu muito obrigada por tudo. Agora é hora de dormir porque amanhã tenho aula de Método de manhã e de Luta para Filmes logo depois do almoço. Que Deus me ajude.

domingo, 9 de outubro de 2011

09/10

Domingo. Acordei ainda com bastante dor no siso. O suficiente pra não querer ir comer a torrada com cereal do café da manhã do albergue. Como eu não estava bem e meu amor tem a maior boa vontade pra ser explorado, fiquei no quarto enquanto ele procurava uma farmácia aberta para comprar meu antiinflamatório. Aproveitei para decorar o texto pra aula de amanhã, ler um pouco e dormir um pouco mais. O Alberto demorou um tempão pra voltar. As coisas aqui já são difíceis de estarem abertas, no domingo então. Mas ele voltou todo empolgado depois dessa nossa curta separação. Acontece que ele andou muito e tudo estava fechado. Quando resolveu voltar, umas das farmácias tinha aberto. Conseguiu achar um dos remédios indicados, o outro só com prescrição médica, e estava passando o texto dele na cabeça pra aula de amanhã quando de repente ele vê um senhor de boné também comprando seus remédios. Acontece que o senhor em questão era ninguém menos que Steven Spielberg!!! Ele ficou com uma cara de tão chocado que o distinto senhor resolveu falar com ele um simpático: “Hi”! Aí, meu amor, embasbacado disse: “Thank you”! Ao que o Spielberg sem entender perguntou: “Thank you for what”? Alberto, super nervoso começou a dizer que ele era um ator brasileiro e que estava agradecendo por tudo o que o Spielberg tinha feito pelo cinema. Ao ouvir que ele era ator, o experiente senhor que já deve estar cansado de ouvir pedidos de atores, apertou a mão dele, disse “You’re welcome” e caiu fora rapidinho. Só pra confirmar, o Alberto perguntou pra caixa da farmácia se era mesmo quem ele pensava. E ela disse que sim, que ele ia lá quase todos os dias. Pelo menos minha dor de dente e minha exploração serviram pra alguma coisa boa! Além do remédio, ele passou no mercado e comprou algumas coisas para comermos, entre elas o iogurte que está me salvando agora. Acabamos almoçando no mesmo lugar onde já tínhamos ido duas vezes em busca do macarrão que era a única coisa que parecia ser fácil de comer pra mim. Funcionou. Me alimentei bem sem muita dor. O remédio ainda não fez muito efeito, mas me deu sono pra dormir durante boa parte da tarde. O resto do tempo passei lendo e mexendo nas fotos da viagem. Estou super ansiosa e nervosa pra minha primeira aula. Precisamos começar a pensar em tudo que queremos fazer por aqui para não deixar tudo para última hora. Mesmo por aqui, todo mundo reage de maneira super efusiva quando dizemos que vamos estudar interpretação em Hollywood. Uma oportunidade e tanto! Agora é dormir e rezar para dar tudo certo amanhã.

sábado, 8 de outubro de 2011

08/10

Sábado. Dia de estudar e trabalhar. O meu post do dia vai ser reduzido porque boa parte do meu dia foi segredo de Estado...rs. Logo depois do café da manhã, comecei a devorar leis, instruções normativas e portarias para aprender a fazer direito o trabalho que eles desistiram de oferecer treinamento. Já tinha lido o projeto todo e selecionado as questões duvidosas. Acabei redigindo minha primeira diligência (quando o parecerista solicita ao proponente as informações que acha necessárias para conclusão do parecer). A parte chata é que o proponente tem até 20 dias pra responder à diligência e, enquanto isso, não posso concluir a análise. É torcer para responderem logo. Voltamos no restaurante de anteontem onde comemos um frango ao molho de vinho branco e aspargos e purê de batata. Estamos tirando a barriga da miséria em Los Angeles. Uma delícia! No albergue, copiei no meu caderno o texto gigante que tinha escolhido pra decorar, já que o meu texto estava no mesmo livro que o do Alberto. Mas acabei decidindo que ele era mesmo grande demais e escolhi outro que ainda não decorei, mas que vai ser mais tranquilo. Acho até que gosto mais desse segundo. A parte ruim do dia foi que o meu siso preferido, única parte de juízo que me falta e que só nasceu um pedacinho porque está agarrado no meu nervo me impedindo de tirá-lo, resolveu voltar a doer. Um pouco antes de viajar ele estava com essa mania, me deixando preocupada, mas só hoje resolveu voltar a perturbar. A gengiva está bem inchada, mas minha amiga dentista Marianna me fez o favor de recomendar um antiinflamatório que vou procurar amanhã por aqui e vai me deixar boazinha. Amém! Ainda bem que eu escrevo por aqui e não falo, porque falar está difícil. Esqueci de comentar ontem. Quando chegamos de volta no quarto do hostel tivemos duas surpresas: a primeira é que ninguém tinha aparecido ainda pra limpar, ainda não descobrimos como funciona o esquema da limpeza, e a segunda foi que a nossa televisão sem controle remoto tinha sumido. E no lugar dela apareceu uma mega televisão na nossa parede. Não sei se foi um bônus por ficarmos tanto tempo ou se eles adquiriram com a grana que a gente pagou em dinheiro...rs. Como o dia foi tranquilo e confidencial, vou escrever aqui meu textinho do avião:

Pensamentos de Voo
P: Olha lá! O que vem lá?
R: Não sei. Espera chegar.
P: Mas e se o chegar nunca chegar?
R: Você espera o nunca passar e vai lá espiar.
P: E se não for o que eu espero que seja?
R: Você desapega e agradece a surpresa.
P: E se eu quiser voltar para onde eu estava?
R: Você não vai mais encontrar o que deixou para trás, porque o para trás não existe.
P: Mas você não sabe o que vem lá?
R: Vinha. Já passou e você nem notou porque estava de costas.
P: E agora? O que eu faço?
R: Viva exatamente onde você está porque o mundo é uma esteira rolante gigante com diferentes caminhos. Fique sempre atento nas interseções e leia os sinais para escolher o seu destino.
P: E se eu escolher errado?
R: Os caminhos são ligados. Quando quiser, é só mudar a rota. Você só não vai poder abandonar sua bagagem no caminho. Ela é parte de você e nunca diminui, só aumenta. O que não significa que vá ficando mais pesada.
P: E onde eu encontro a felicidade?
R: Sempre no mesmo lugar. Dentro de você. É só procurar com carinho que vai ver que ela está sempre à mão.
P: E quando eu vou ter todas as respostas?
R: Quando você não tiver mais perguntas.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

07/10

Dia histórico! Acordamos, tomamos café e fui fazer minha rotina de internet. Checar e-mails, facebook e Ministério da Cultura. E pra minha surpresa, depois de 10 meses de sair a publicação no DO me declarando parecerista apta, de muita espera, muitos e-mails e de um último e-mail na noite anterior questionando a demora, meu primeiro projeto pra análise! Ainda bem que não foi nas últimas duas semanas, quando não estava sobrando tempo pra nada, e sim agora que estou bem mais tranquila, tenho meu computador e um bom acesso à internet no albergue. Dei só uma olhadinha por alto no projeto pra matar a curiosidade, mas deixei pra começar a análise mais tarde. Decidimos almoçar num restaurante de comida brasileira. Hoje, chegamos ainda mais perto da calçada da fama, mas ainda não chegamos lá. Alcançar a fama requer tempo e esforço. Ainda não estávamos nos sentindo preparados. O restaurante ficava na Sunset Boulevard, rua bem famosa aqui de Hollywood. No caminho, eu vi um cara saindo de uma casa que parecia ser alguém importante mas que eu não tinha ideia de quem era. Quando o Alberto viu ficou todo empolgado virando pra trás pra acompanhar o famoso. Ele disse que era o Danny Trejo. Enfim. Continuamos caminhando e acabamos encontrando minha livraria dos sonhos. Uma livraria enorme só com livros de teatro e cinema. Pra quem está acostumada a encontrar uma pequena seção, quando tem, foi uma festa. O problema foi segurar pra não comprar tudo. Saímos de lá com sete livros, três do Lee Strasberg. Um deles eu já li em português, mas queria muito ler em inglês para me acostumar com termos que serão usados nas aulas. Ainda estou morrendo de medo de o inglês falhar durante as aulas. Na livraria, um quadro dizia que o Al Pacino tinha filmado uma cena lá pro seu novo filme no dia 27/09. Dia em que estávamos em NY comemorando nosso aniversário. Uau! Estamos mesmo no lugar certo. Andamos mais um bocado e achamos o restaurante Bossa Nova. Não há lugar no mundo como a nossa casa! A comida brasileira foi a melhor de todas até agora. Arroz branco, feijão, picanha e batata. Até o feijão estava delicioso! Como é bom matar um pouquinho das saudades do nosso país depois de 17 dias de viagem e sanduíches basicamente. No som, Gilberto Gil pra completar o clima. Saímos de lá revitalizados. Hora de voltar pro albergue, mas não sem antes passar no 99 cents only. Também encontramos a Ross. Uma loja que eu me lembrava de ter ido com a mamãe e a Fla em São Francisco onde compramos os Keds azuis que a Fla perdeu no avião porque estava dormindo descalça na hora da conexão e alguém levou achando que era de uma pessoa que tinha descido do avião. Enfim, comprinhas na Ross e alguém segure a gente no albergue para parar de comprar porque essa cidade é irresistível. Estávamos andando, olhamos pro lado e... Oh! O antigo estúdio do Charles Chaplin. Uma casa muito linda! De volta no albergue, comecei a trabalhar. Tenho dez dias para concluir meu primeiro parecer e não quis fazer tudo logo no primeiro dia. Mas já tenho uma boa ideia do geral e do que parece estar errado com o projeto e pretendo estudar amanhã o material teórico todo de novo. Também acho que achei um monólogo para levar pra aula em um dos livros que compramos. Mas decorá-lo vai ficar para amanhã. Estou bem mais acostumada com a cidade. Não me assusta como antes. O transporte público aqui é muito fraco já que todos tem carro. Como não compreendemos ainda como funciona, estamos fazendo tudo a pé mesmo. Agora vou dormir pra me preparar para um fim de semana de estudo e trabalho.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

06/10

Acordei bem cedo por ter dormido às 18:30 e enrolei até a hora do café da manhã que aqui começa às 8:00. O café da manhã é bem básico. Pão, margarina, geléia, manteiga de amendoim, cereal, café e leite. Comemos, acessamos a internet para eu tirar o atraso do blog, fizemos uma pesquisa para descobrir onde era a Best Buy (bem longe) e saímos umas 10:00. Parece que Hollywood não acorda cedo. Quase todas as lojas estavam fechadas e só abririam às 11h. Isso porque, no dia anterior, quando a gente saiu umas 17h, estava quase tudo fechado também. Encontramos aberta uma loja da Chilli Beans que descobrimos ser uma marca brasileira e depois de olharmos um tempo fomos descobertos como brasileiros pela vendedora também brasileira. Ela foi super simpática e acabamos voltando mais tarde pra comprar um relógio. No caminho, também descobrimos um brechó tudo de bom. Sonho de consumo de qualquer figurinista. Tinha de tudo e separado por época. O Alberto conseguiu comprar um sobretudo que ele estava procurando há um tempão e eu quase comprei um longo pra receber o Oscar mas, embora ele tenha ficado perfeito em mim, o fio estava um pouco puxado embaixo e acabei desistindo. Ainda no caminho, entramos numa loja que vendia artigos pra estúdio e também na minha preferida até agora: um supermercado desses que vendem de tudo chamado “99 cents only”. E não era mentira!!! Só que esse ficava perto da Best Buy, ou seja, longe do albergue, e a gente já ia ter muito peso pra carregar. Espero voltar lá depois e fazer a festa. Chegamos enfim ao nosso destino e compramos meu lindo laptop novo, de onde eu não estou escrevendo agora porque ele foi configurado aqui e eu não consigo colocar os acentos nem a pontuação direito ainda. Carregamos tudo de volta, mas paramos pra almoçar num lugar delicioso! Muito provavelmente a melhor comida até agora! Comemos uma massa gratinada ao molho de quatro queijos que meu estômago agradeceu em vários idiomas. Passamos o resto do dia no hotel e aproveitei pra atualizar um pouco as fotos da viagem. Ainda não tiramos nenhuma foto por aqui. Recebi um e-mail hoje do Lee Strasberg Institute dizendo pra eu levar um monólogo preparado já para segunda. Como eu estou com o Alberto aqui, também pode ser uma cena pra dois, o que a gente deve fazer. Temos até segunda pra escolher e decorar. Espero que meu cérebro funcione no modo decorar em inglês. Pudemos perceber hoje também que por aqui não falta emprego pra trabalhar em loja. Quase todas estavam solicitando pessoas pra ajudar. Pena que a gente não pode trabalhar pra ficar mais um pouco. Nosso visto não permite trabalho mesmo que não remunerado. Como vamos passar 25 dias aqui e estudar, acabamos não planejando o que fazer no tempo livre como nos outros lugares. Então, ainda estamos um pouco perdidos. Eu sei que hoje andamos bastante e quase chegamos na calçada da fama. Mas só descobrimos isso depois de voltar. O nosso albergue fica do lado de um cinema mudo e pro outro lado da avenida tem uns museus que também devemos visitar em breve. Por enquanto, o foco é se preparar pro começo das aulas.
PS: Esqueci de comentar que em Orlando descobrimos que até algumas máquinas de snacks, dessas que você coloca o número do que você quer e a parada cai, aceitam cartão de crédito. Eu estava sem trocado e comprei um M&Ms na máquina com meu cartão de viagem.