Dia de partir. Dia de voar, seguir outros rumos. Dia de se despedir dessa aventura, desse aprendizado. Dia de viajar para deixar essa viagem acabar. O nosso transporte para o aeroporto chegou com 15 minutos de antecedência, me deixaram comer só uma fatia de pão. Nossas bagagens eram tantas que demos sorte de sermos os últimos a serem buscados e de ter sobrado um lugar vazio onde foram nossas bagagens de mão. Los Angeles é uma cidade imensa e, por isso, não conseguimos conhecer nem nossa rua inteira. Está certo que não era uma rua e sim uma avenida, mas só passamos por ela inteira na ida e na volta pro aeroporto. Nosso voo saía 13:30 e chegamos com uma boa antecedência. Os pesos da mala estavam ok e elas passaram pelo controle de segurança. Ninguém falou nada sobre o tamanho da minha mala de mão, mas eu sabia que ela não ia caber no compartimento e nem nos nossos pés. Até porque toda vez que embarcamos encontramos os nossos bagageiros já ocupados. Estava bem tensa com isso. Mas, de repente, uma voz anuncia que o nosso voo está completamente lotado e por isso terá problemas para comportar as bagagens de todos e que quem quisesse se voluntariar poderia despachar sua bagagem de mão direto para o destino final sem nenhum custo. Amém! Mais uma vez o Universo foi perfeito e esteve ao meu favor. Despachei minha linda mala de passarinhos e pude seguir em paz só com uma
mochila e uma sacola com meu travesseiro. O primeiro voo foi tranquilo. Eram quatro horas e meia de viagem. Mas, por causa da diferença de fuso-horário, vimos o anoitecer antes das 17h. Aproveitei para ler um pouco e deixei pra comprar o direito de usar a internet wi-fi no voo seguinte que era mais longo. Eu tinha combinado com a minha mãe que mandaria uma mensagem quando pegasse o segundo avião, mas o Alberto não sabe onde colocou o celular e provavelmente está despachado. Não teve muita espera entre um voo e outro, mas de repente já estávamos parcialmente de volta no Brasil. Acontece que quase todos que estavam lá esperando o voo pro Rio eram brasileiros e não mais se ouvia falar em inglês e sim em português. Aproveitei o intervalo para esticar um pouco as pernas. Esse foi o embarque mais bagunçado de todos. Acontece que nossos compatriotas não queriam compreender os avisos, em português, de que deviam aguardar sentados a hora do embarque e a chamada por zonas, e ficavam amontoados na frente da área de
embarque. Conseguimos embarcar e mais uma vez não tinha espaço no bagageiro. Tudo no pé mesmo. Paciência. A má notícia: esse voo não tinha acesso à internet e eu não teria como avisar minha mãe que estava tudo bem e eu estava a caminho na hora certa. Fiquei tão tensa que dei um jeito horroroso no ombro esquerdo que está doendo até agora e não me deixa fazer vários movimentos. Achei que a dor podia passar depois de decolar e estabilizar, mas não. Nesse momento, estou pela primeira vez escrendo a postagem em pleno voo. Embora só possa postar mesmo quando estiver em terra firme e com acesso à internet. Mas não podia esperar para escrever essa última postagem e eu nunca consigo mesmo dormir direito em avião. A essa hora, eu ainda estou biologicamente no dia 30, mas meu relógio já diz que é dia 31. Dia de chegar em casa e me inventar de novo. Aquela que chega não é a mesma que saiu. Isso eu já tinha certeza que aconteceria, mas tinha medo porque não sabia quem eu seria quando chegasse lá. Pois eu era eu mesma, só que eu mesma muda toda hora em qualquer lugar. As mudanças vão occorendo a cada experiencia. Às vezes, tão devagar que a gente que está dentro nem nota. Mas quanto mais intensas as experiências, maiores as mudanças. Por isso, posso afirmar que mudei bastante. Porque vivi bastante. Agora sei exatamente quanto tempo tem em 40 dias, porque vivi cada hora. A gente muitas vezes esquece de viver e fica só sobrevivendo, convivendo com a própria rotina. Aí o tempo passa e a gente nem vê. Essa é a grande maravilha de viajar, a sua rotina não cabe na bagagem. Essa experiência de escrever esse blog foi muito boa e espero conseguir levar a sensação adiante para que meus outros dias não sejam dias comuns. Por que não viver cada dia como se tivéssemos que escrever uma postagem inteira sobre ele? Porque ter que escrever sobre o seu dia te dá uma consciência plena do que você está fazendo com o seu tempo. Se você está ou não vivendo o seu presente. Te dá um incentivo para buscar coisas novas e interessantes. Te obriga a sair da preguiça, do deixa pra outro dia. Outra coisa que ficou forte em mim depois disso tudo foi que tudo depende do ponto de vista. Que as dificuldades menores só parecem pequenas perto das maiores. Então, se você tinha um objetivo que parecia muito difícil de alcançar, almeje um ainda mais difícil. Mas acredite nele com todo coração, que o primeiro, ao deixar de ser um objetivo e sim só mais um passo, vai parecer bem mais fácil. E quando você não acha tão inalcançável você vai lá pra ver e descobre que na verdade é só ficar na ponta dos pés. Porque talvez essa vida esteja longe de ser o objetivo final, mas sim um passo do caminho. Acredito que será muito bom poder reler tudo que escrevi sempre que quiser e mergulhar de novo nessa viagem. Mas talvez não tivesse tido força de vontade para escrever todos os dias se não soubesse que tinham pessoas aí do outro lado lendo, me acompanhando, torcendo, esperando pra saber que dias eram esses que eu estava vivendo lá em outro país, outro continente. Agradeço a todos que tiveram o interesse e a paciência de ler esses meus textos intermináveis. Acredito que alguns me conheceram mais nesses dias em que estou longe do que nos outros em que estava perto. A vida tem dessas ironias. E é uma delícia viver com todas as dores e prazeres que isso implica. Para que só andar se podemos fechar os olhos de olhos abertos e voar?
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